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Os que se escondem

Publicar artigos de opinião é sempre uma faca de dois gumes. Se, por um lado, é fácil atacar os outros, difícil se torna falar sobre nós próprios. Como vimos, eminentes figuras do maior partido da oposição demonstraram uma facilidade discursiva entre 24 de janeiro e 14 de fevereiro, indetetável entre 7 de novembro de 2023 e o referido intervalo de tempo. Revela-se mais confortável referir a liberdade individual para a escolha dos temas a abordar em cada artigo, fugindo assim aos mais difíceis. Diferentes são aqueles que sob diversas formas – e possíveis interpretações – não se subtraem à análise dos momentos. Bons ou menos bons.

Mostra-se ainda interessante que um candidato a um órgão de soberania – por um sítio que não é o seu e ao qual não tem qualquer conexão – atropele de forma vil, indecente, imoral, baixa, prepotente e até imponderada, o princípio da presunção de inocência, trate-se de cidadãos anónimos ou políticos consagrados. Para alguém que alega querer continuar a defender os madeirenses e a legislar para a República, pouco uso fez dos anos em que lá esteve. Revelando-se, porém, capaz de trair um camarada e de o mandar para um círculo eleitoral do continente – quando a sua naturalidade e influência o justificariam nesse lugar –não é de espantar. De facto, é melhor esconder-se no sorriso (pouco pepsodente) do madeirense que lhe vendeu a alma política e o discernimento estratégico, e que está,qual Joker, a sorrir nuns cartazes que por aí andam.

Outros camaradas, que em novembro se debruçaram sobre temas menos relevantes, foram ávidos a escrever e falar sobre a atualidade da Região. Sendo uma faculdade que lhes assiste, não deixa de lhes revelar o carácter. Melhor esteve quem não cedeu à fácil tentação de criticar o seu maior adversário.

Desconhecia-se ainda que um cabeça-de-lista a um órgão de soberania, pela Madeira, era natural de Algueirão-Mem Martins. Esperar-se-ia que, com tanta propaganda em todos os postes por essa ilha fora, tal organização política tivesse, pelo menos, um madeirense na liderança da cruzada até Lisboa. Devemos, porém, andar equivocados, já que nesses cartazes apenas figura um senhor que aparece na televisão várias vezes, mas que nada conhece da Madeira, dos seus problemas e da sua maior conquista– a Autonomia Política.

Mais do que a facilidade dos tempos ou da forma como lidamos com a adversidade, o importante é guardarrespeito, identidade e coerência sobre aquilo que pensamos. Mesmo que em virtude das vivências tenhamos que mudar de opinião.

Independentemente do que nos move é fundamental não pessoalizar, banalizar e achincalhar o outro à medida daquilo que nos dá jeito. Os dois exemplos referidos constituem simples manifestações do que há de pior no oportunismo político: por motivos diferentes, mas pelo mesmo objetivo. E, para o alcançar, não pode valer tudo.