Amnistia Internacional responsabiliza Moscovo pela morte do maior opositor do Kremlin
A Amnistia Internacional responsabilizou hoje a Rússia pela morte de Alexei Navalny, "o maior opositor" do Kremlin (presidência) e um "prisioneiro de consciência" que se manifestou "contra um Governo repressivo".
Num comunicado divulgado horas depois da notícia da morte do opositor russo ter sido avançada pela agência oficial russa TASS, a Amnistia Internacional, com sede em Londres, sublinhou que Navalny "pagou o preço mais alto" por ser uma voz crítica e por defender a liberdade de expressão na Rússia.
"Na sequência do seu envenenamento, detenção injusta e tortura na prisão, Alexei Navalny morreu depois de ter definhado durante 37 meses atrás das grades e de ter sido enviado para uma das prisões mais remotas e severas da Rússia. Alexei era um prisioneiro de consciência apenas", afirmou Agnès Callamard, secretária-geral da organização não-governamental (ONG).
Callamard lembrou que Navalny exigiu liberdade política para si próprio e para os seus apoiantes, denunciou a corrupção e desafiou o Presidente russo, Vladimir Putin.
"A sua morte é uma acusação devastadora e terrível da vida sob o domínio opressivo e sufocante do Kremlin. Pagou o preço mais alto por ser uma voz crítica e defender a liberdade de expressão. A Amnistia Internacional está ao lado de todos os que lutam pelos direitos humanos dentro e fora das fronteiras da Rússia", acrescentou Callamard.
A secretária-geral da Amnistia Internacional realçou que, durante a detenção, Navalny não teve acesso a cuidados de saúde, foi mantido durante longos períodos em isolamento e desapareceu quando foi enviado para uma das colónias penais mais remotas, perto do Círculo Polar Ártico, situação agravada pelo facto de as autoridades russas se "recusarem a investigar corretamente e a dar transparência a anteriores alegações de violações dos seus direitos humanos".
"No início da procura de justiça, é evidente que existem poucas vias à nossa disposição. É por isso que é crucial que a comunidade internacional tome medidas concretas para responsabilizar todos os culpados. Temos de apelar urgentemente às Nações Unidas para que utilizem os seus procedimentos e mecanismos especiais para investigar a morte de Alexei Navalny", concluiu Callamard.
Hoje, o Serviço Penitenciário Federal russo (FSIN) informou que Navalny sentiu-se mal após um passeio no pátio da prisão e que perdeu a consciência pouco depois, referiu a ONG no comunicado, indicando dar pouco crédito às informações transmitidas pelo organismo.
Apesar de o FSIN ter afirmado que a equipa médica da colónia penal prestou assistência imediata e que foi acionada uma equipa de ambulância, todos os esforços de reanimação falharam e Navalny foi declarado morto, salientou ainda a Amnistia Internacional, baseando-se sempre nas informações fornecidas pelo serviço federal russo.
"O comunicado do FSIN conclui com o anúncio de que as causas da morte estão a ser apuradas. Em conformidade com o Protocolo de Minnesota das Nações Unidas sobre a Investigação de Mortes Potencialmente Ilícitas, os Estados têm a obrigação de efetuar investigações rápidas, imparciais e eficazes sobre as circunstâncias e as causas de todas as mortes sob custódia", relembrou a Amnistia Internacional.
"Entre outros aspetos fundamentais, as autoridades devem garantir a realização de uma autópsia independente por peritos forenses imparciais e ser transparentes, permitindo o escrutínio por parte de observadores internacionais e da família de Navalny", realçou ainda a organização de defesa e promoção dos direitos humanos.
Alexei Navalny morreu hoje, aos 47 anos, numa colónia penal no Ártico onde cumpria uma pena de 19 anos de prisão.
Até ao momento, a equipa de Navalny não confirmou esta informação, mas destacados dirigentes ocidentais e os apoiantes do opositor responsabilizam o Presidente russo, Vladimir Putin, pela sua morte.