ONU lamenta suspensão de assessoria do alto-comissário para os Direitos Humanos na Venezuela
A ONU lamentou ontem a decisão do Governo do Presidente Nicolás Maduro de suspender a assessoria do alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, e de dar 72 horas aos seus funcionários para que abandonem o país.
"Lamentamos este anúncio e estamos a avaliar os próximos passos a seguir", explicou Ravina Shamdasani, porta-voz do alto-comissário, num curto comunicado enviado por e-mail aos jornalistas.
O documento sublinha que a ONU "continua conversando com as autoridades e outros atores", sobre essa decisão.
"Os nossos princípios objetivos têm sido e continuarão a ser a promoção e a proteção dos Direitos Humanos dos venezuelanos", explica.
A Venezuela suspendeu na quinta-feira as atividades de assessoria do alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alegando posições "claramente parciais e tendenciosas", e deu 72 horas aos seus funcionários para que abandonem o país.
"A Venezuela anuncia a sua decisão de suspender as atividades do gabinete de assessoria técnica do alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Venezuela", refere um comunicado do Ministério de Relações Exteriores venezuelano.
A Venezuela, adianta, vai "proceder a uma revisão na íntegra dos termos de cooperação técnica descritos na Carta de Entendimento assinada com esse gabinete nos próximos 30 dias" e por isso "solicita ao pessoal afeto ao gabinete que abandone o país nas próximas 72 horas, até que retifiquem publicamente, perante a comunidade internacional, a sua atitude colonialista, abusiva e violadora da Carta das Nações Unidas".
Segundo Caracas, "esta decisão foi tomada devido ao papel impróprio que esta instituição tem desempenhado, que, longe de mostrá-la como um órgão imparcial, levou a converter-se num bufete privado de grupos golpistas e terroristas que estão constantemente a conspirar contra o país".
"Desde a assinatura da Carta de Entendimento, o alto-comissário tem mantido uma posição claramente parcial e tendenciosa, procurando constantemente gerar impunidade para as pessoas envolvidas em várias tentativas de magnicídio, golpes de Estado, conspirações e outros graves atentados contra a soberania e a Constituição", explica.
A decisão do Governo da Venezuela tem lugar dias depois de a ONU manifestar "profunda preocupação" pela detenção da ativista dos Direitos Humanos, Rocío San Miguel", pedindo que seja libertada imediatamente.
Também depois de o relator especial da ONU, Michael Fakhri, divulgar um relatório expressando preocupação pela crise alimentar venezuelana, e instar a Venezuela a combater as causas profundas da fome e da desnutrição, num país, vários relatórios dão conta que quase 82% da população vivem em pobreza e 53% deles em pobreza extrema, com rendimentos insuficientes para aceder ao cabaz básico alimentar.
"A insegurança alimentar, a má nutrição e a deterioração dos meios de subsistência já levaram à emigração em massa (...) O futuro da Venezuela está em jogo", Michael Fakhri.
Desde 2019 que a ONU assessora a Venezuela em matéria de Direitos Humanos.
Em junho de 2023 o Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) Karim Khan, e o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, assinaram um acordo para abrir, em Caracas, um escritório de cooperação técnica daquele organismo para investigar as denúncias sobre alegados crimes contra a humanidade no país.