Democracia global continua a degradar-se na "Idade do Conflito"
O estado da democracia global continua a deteriorar-se com um reforço nos regimes autoritários ou híbridos, num planeta acossado por crescentes conflitos militares, de acordo com o relatório do Índice da Democracia 2023, hoje divulgado.
O relatório -- organizado pela organização Economist Intelligence Unit e que faz um retrato anual do estado das democracias em 165 países e territórios -- revela que o número de países com democracias (plenas ou com defeitos) subiu de 72 para 74 no último ano, mas as métricas de apreciação geral são bem mais negativas e revelam que o índice médio caiu de 5.29, em 2022, para 5.23, em 2023.
O título do documento é "A Idade do Conflito" e mostra que os regimes políticos têm sido impotentes a tentar travar a escalada de guerras no planeta, o que parece estar a afetar a qualidade das democracias a nível global, contribuindo para o fortalecimento dos chamados regimes híbridos (parcialmente democráticos) e dos regimes totalitários.
Conclui-se que os regimes totalitários estão a consolidar-se e os regimes híbridos estão a revelar crescentes dificuldades em tornar-se mais democráticos.
De acordo com este índice, menos de metade da população mundial (45,4%) vive num qualquer tipo de democracia e apenas 7,8% da população vive numa democracia plena, em comparação com 8,9 por cento em 2015.
Este decréscimo dos regimes de democracia plena deve-se, em grande parte, ao facto de os Estados Unidos terem deixado de ser uma democracia plena, para passarem a ser considerados na tipologia de "democracia com defeitos" (um patamar acima dos regimes híbridos), com a chegada ao poder do ex-Presidente Donald Trump, em 2016.
O relatório revela que, em 2023, mais de um terço da população mundial (39,4 por cento) vive sob um regime autoritário, um valor que tem vindo a crescer nos últimos anos.
"À medida que a hegemonia dos EUA é cada vez mais contestada, a China passou a disputar a influência global e potências emergentes como a Arábia Saudita e a Turquia afirmam os seus interesses, tornando a ordem internacional mais instável", pode ler-se no documento hoje divulgado.
O estudo concluiu ainda que as democracias mais desenvolvidas estão a ser confrontadas com múltiplos desafios políticos e sociais, o que sugere que esta forma de regime político (desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial) pode estar a apresentar sinais de ineficácia e inadaptação à nova ordem mundial, governada pelo multilateralismo.
A Noruega está no primeiro lugar e no segmento de democracias plenas, seguida de Nova Zelândia, Islândia, Suécia e Finlândia, no topo do 'ranking' com melhore índices de saúde democrática global.
No último lugar, e no segmento de regimes totalitários, está o Afeganistão, antecedendo Myanmar, Coreia do Norte, República Centro Africana e Síria.
Portugal mantém-se nos lugares cimeiros do pelotão das democracias com defeitos, pouco abaixo dos Estados Unidos e de Israel, e logo acima da Eslovénia, Botswana e Itália.