Disseram-me… (texto revisitado em Fevereiro de 2024)
Estamos em Junho de 2001.
Disseram-me que a vida é bela e eu acreditei. Disseram-me que o bem vence o mal e eu cultivei essa crença. Disseram-me que ainda valia a pena amar e eu escancarei o meu coração. Disseram-me e eu, tão jovem, acreditei.
Mas, o tempo foi circulando nas entranhas do meu ser e eu, sem querer, assim me deixei ficar no silêncio do meu coração onde me refugiei.
Depois, que filme se desenrolou no passar da vida?
- uma jovem de 15 anos que se suicida na verdura dos seus sonhos
- uma jovem mãe que embrulha num pedaço de cobertor a sua rosa em botão, mete-a num saco de plástico e atira-a para a lixeira mais próxima
- outra, que afoga cinco vidas numa banheira
- e ainda aquela velhinha carregada com o peso dos anos, impotente diante tanta violência.
Onde começa a realidade e acaba a ficção? – interrogo-me
Por onde andam os valores apregoados? Alguns, por nós, cultivados ?
E TU, Senhor, o que me dizes? – porque, os outros, já o disseram.
É que, hoje, passados 23 anos, o filme repete-se com a mesma intensidade!
Então, tal como nessa altura, um silêncio longo e pesado, triste e sem horizontes cai dentro de mim numa quietude feita de mágoa e de algum desacreditar que só se acalma com o deslizar em meu rosto de uma lágrima também ela, pesada , longa e triste.
Graziela Camacho