PCP e Livre rebatem apelos do PS ao voto útil e defendem direito dos polícias à greve
Os líderes do PCP e Livre rebateram hoje os apelos do PS ao voto útil, salientando a sua importância numa eventual maioria à esquerda para forçar os socialistas a negociar, e concordaram no direito à greve dos polícias.
No debate que colocou frente-a-frente na CNN Portugal, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, em representação da CDU (coligação PCP/PEV), começou por dizer que os comunistas nunca falharão a uma convergência "que responda aos problemas concretos do país", lembrando o "papel determinante" que o partido teve em 2015, na formação da 'geringonça'.
Realçando que nas legislativas de 10 de março o país "não vai eleger nem primeiros-ministros, nem secretários de Estado", mas sim 230 deputados, Paulo Raimundo insistiu que a única forma de o PS vir a dar "as respostas necessárias, no emprego, no trabalho e no caminho da paz, é com uma maioria diferente".
"Não é reforçando o PS que nós lá vamos", defendeu.
Também o porta-voz do Livre, Rui Tavares, considerou que "a melhor maneira de implementar as ideias do Livre é votar no Livre", aplicando a mesma lógica ao PCP e numa resposta ao líder do PS, Pedro Nuno Santos, que num debate com o historiador argumentou que a única forma de colocar em prática as propostas do Livre é com um governo socialista.
"Votar no PS às vezes nem para implementar as ideias do PS serve, como vimos com a maioria absoluta, que passados dois anos foi ao charco. É uma pressão sobre o eleitorado que deu no que deu e creio que as pessoas estão muito avisadas perante esse tipo de chantagens", argumentou Rui Tavares.
O deputado do Livre mostrou-se convicto de que uma maioria à esquerda "de progresso e ecologia" é "mais coerente", contrapondo que à direita existe "uma incoerência muito grande" e "um processo de canibalização interna".
Sobre uma proposta do programa eleitoral do Chega, que defende o direito à greve por parte dos polícias da PSP e militares da GNR, os dois dirigentes manifestaram o seu acordo, com Tavares a salientar a necessidade de "serviços mínimos e enquadramento legal".
Paulo Raimundo defendeu ainda a fusão destas duas forças de segurança, enquanto Rui Tavares mostrou-se contra a possibilidade, proposta pelo Chega, de os polícias poderem ter filiação partidária.
"Desconfio muito de partidos que pretendem partidarizar as forças de segurança", alertou.
O debate decorreu num tom calmo e as únicas divergências entre CDU e Livre surgiram em temas como a União Europeia ou o apoio militar à Ucrânia.
Questionado sobre se a posição do PCP no que toca ao conflito no leste da Europa pode afetar os resultados eleitorais, Paulo Raimundo respondeu que "estranharia que uma força pela paz fosse penalizada por querer a paz" e criticou o fornecimento de material militar à Ucrânia.
O dirigente comunista defendeu que o partido sempre salientou que "a guerra não começou em 2022, mas sim em 2014", e que os intervenientes não eram apenas a Ucrânia e a Rússia, mas também os EUA, a NATO e a União Europeia, "que não é neutra neste processo".
Rui Tavares defendeu, por outro lado, a importância do projeto europeu no contexto internacional atual, considerando que não se pode "abandonar a Ucrânia" e manifestando-se contra todos os imperialismos, "seja o dos EUA ou o russo".
Para o Livre é necessária "uma política externa ancorada na autodeterminação dos povos", disse, criticando o PS por estar a "arrastar os pés" no reconhecimento do estado da Palestina.
Sobre a União Europeia, Paulo Raimundo defendeu que é o projeto europeu "que empurra milhares de migrantes para o cemitério do Mediterrâneo", que "negoceia com a Turquia, como se fosse mercadoria, os migrantes" e que "disse ao Estado português que pode meter dinheiro na TAP desde que o fim seja o da privatização".
Rui Tavares rejeitou "caricaturas sobre a UE" e defendeu que "quem assinou um tratado com a Turquia não foi a União", mas sim estados-membros individualmente, e acrescentou que "não há nada no direito europeu que diga que a TAP tem que ser privatizada".
Houve ainda espaço para a Cultura, com ambos a defender o objetivo de investir 1% do Produto Interno Bruto no setor.