ONU teme "massacre" em Gaza com operações militares em Rafah
O subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, alertou hoje que as operações militares israelitas em Rafah poderão levar a um "massacre" em Gaza e colocar as já frágeis operações humanitárias "às portas da morte".
Num apelo direto ao Governo de Israel, que está a planear um ataque a Rafah, Martin Griffiths voltou a avisar para "as consequências perigosas" de qualquer invasão terrestre a esta cidade localizada no sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito.
"O cenário que há muito temíamos está a desenrolar-se a uma velocidade alarmante. Mais de metade da população de Gaza -- bem mais de um milhão de pessoas -- está amontoada em Rafah, encarando a morte de frente: têm pouco para comer, quase nenhum acesso a cuidados médicos, nenhum lugar para dormir, nenhum lugar seguro para onde ir", descreveu Griffiths em comunicado.
Referindo-se à população da Gaza como "vítimas de um ataque sem paralelo na sua intensidade, brutalidade e alcance", o líder humanitário da ONU destacou o desespero generalizado que se vive, ao qual se junta o colapso da lei e da ordem e o esgotamento do financiamento da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), que teve recentemente as suas verbas cortadas pelos maiores doadores após Israel denunciar que 12 trabalhadores da agência estiveram envolvidos nos ataques de 07 de outubro do Hamas.
"As consequências são trabalhadores humanitários alvejados, mantidos sob a mira de uma arma, atacados e mortos. Há semanas que afirmo que a nossa resposta humanitária está em frangalhos", disse Griffiths.
"Hoje, soou mais uma vez o alarme: as operações militares em Rafah podem levar a um massacre em Gaza. Poderiam também deixar uma operação humanitária já frágil à beira da morte. Faltam-nos as garantias de segurança, o fornecimento de ajuda e a capacidade de pessoal para manter esta operação em funcionamento", frisou.
Nos últimos dias, a ONU e a comunidade internacional têm alertado para as terríveis consequências de uma invasão de Rafah, mas o Governo de Benjamin Netanyahu insiste na ideia, alegando a necessidade de erradicar o Hamas, movimento islamita palestiniano que atacou Israel há quatro meses, e sem dar pormenores sobre o destino da população.
"O Governo de Israel não pode continuar a ignorar estes apelos. A história não será gentil. Esta guerra deve acabar", insistiu Martin Griffiths.
Horas antes, também o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o "colapso na ordem pública" em Gaza devido à deterioração das condições de segurança para a entrega de ajuda humanitária no enclave.
Israel está a planear um ataque a Rafah, sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito, apesar dos avisos em sentido contrário dos aliados e organizações internacionais, alarmadas com potenciais consequências humanitárias.
Em Rafah, aos cerca de 200 mil habitantes que residiam na cidade, juntaram-se mais de 1,3 milhões de deslocados vindos no centro e norte do enclave palestiniano, na sequência dos numerosos ataques do exército israelita contra posições do Hamas tanto em Gaza (norte) como em Khan Yunis (centro/sul), iniciados em 07 de outubro de 2023.
Na segunda-feira, a ONU rejeitou "fazer parte do deslocamento forçado da população" em Rafah, com o porta-voz de Guterres a repetir que "não há nenhum lugar seguro" na Faixa de Gaza.