Em Fevereiro de 1985, perante uma convulsão política no PSD nacional, após a demissão do líder Mota Pinto, Alberto João Jardim não colocava de parte a possibilidade de ele próprio ser candidato à Presidência da República, cujo sufrágio só aconteceria no ano seguinte.
De regresso à Madeira, após o Conselho Nacional do partido, o então líder do PSD-Madeira dizia que “num momento em que vai ser feito um referendo interno, ninguém é candidato, mas perante os resultados dessa consulta directa às bases, qualquer militante, inclusive eu próprio, temos a obrigação de os aceitar”.
Além disso, afirmava que o candidato a apoiar pelo PSD, “desde que consiga o apoio de todas as correntes de opinião contra o Estado socialista, está ainda em condições de ganhar as eleições, seja ele quem for e desde que faça uma campanha eleitoral dinâmica, de derrotar os dois adversários dos sociais-democratas: o soarismo e o eanismo”.
Sobre a crise interna do partido, e reagindo aos resultados do Conselho Nacional, Jardim dizia que “não foram os que esperava”. Ainda no então Aeroporto de Santa Catarina, à chegada de Lisboa, o presidente do Governo Regional da Madeira acrescentava que o resultado ideal “seria o de assegurar a presença das três correntes [do PSD] nesta solução agora encontrada, embora o ideal tivesse sido o de nada disto acontecer”.
Alberto João Jardim entendia que Mota Pinto “não deveria ter feito o que fez e deveria mesmo ter regressado ao partido quando as três sensibilidades encontraram o consenso e o aceitavam como líder, tendo-se feito, então, a reunificação do partido”, podemos ler na notícia que foi chamada à primeira página do DIÁRIO de Notícias de 12 de Fevereiro de 1985.
Na altura, o madeirense não perdeu a oportunidade de vincar “o peso das regiões autónomas no seio do PSD”, apresentando-as como “um elemento de consolidação” e “com uma certa autoridade moral, dada a estabilidade política nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores e nas próprias estruturas partidárias regionais”.
O referendo interno do PSD sobre as ‘Presidenciais’ estava agendado para 29 de Março desse ano. E era nesse contexto que, caso o seu nome fosse escolhido para candidato, Alberto João Jardim entendia que tinha de aceitar o desafio.
Embora o então líder madeirense entendesse que o Congresso Nacional só deveria acontecer após o acto eleitoral, o certo é que o mesmo teve lugar a 17 de Maio, alguns dias após à morte prematura de Mota Pinto (7 de Maio), devido a um aneurisma. E foi desse congresso, que se realizou na Figueira da Foz, que emergiu Cavaco Silva, que veio a assumir grande relevo na liderança do PDS entre Maio de 1985 e Fevereiro de 1995. Fruto dessa eleição tornou-se líder da oposição ao então primeiro-ministro Mário Soares.
Nesse mesmo ano de 85, Cavaco Silva ganhou as Eleições Legislativas nacionais de 6 de Novembro, tendo permanecido como primeiro-ministro até 28 de outubro de 1995, tornando-se numa das pessoas que mais tempo esteve à frente do governo do país, desde o 25 de Abril.
Mas a edição de 12 de Fevereiro de 1985 noticiava outros assuntos. Na Europa, uma segunda vaga de frio já tinha tirado a vida a 57 pessoas.
“Frio ártico. neve e gelo causaram ontem, pelo quarto dia consecutivo, perturbações no tráfego rodoviário, aéreo e ferroviário em quase toda a Europa Ocidental, elevando o número de mortes para 57, revelaram fontes oficiais em Londres”, podemos ler na primeira página. De entre estas mortes, 30 foram na Grã-Bretanha, 16 na Alemanha Federal, sete na Suécia, três na Suíça e uma na Holanda.
Ao nível regional, “Governo alivia encargos financeiros da Câmara Municipal de Santana” ou “Trânsito «entupido» na 2.ª fase da semaforização”, na cidade do Funchal, também não foram temas esquecidos. Igualmente por cá, os “trabalhadores da hotelaria reivindicam aumentos salariais de trinta por cento”. No Norte da Ilha, a Festa dos Compadres dava que falar.