Tanto barulho para tão pouco

Escrevo porque gosto, porque me apetece, sem qualquer tipo de pretensiosismo. Escrevo o que sinto, sendo certo que tenho a noção de que há quem goste e quem não goste. Escrevo porque sou e me sinto livre. Aceito e respeito eventuais críticas, porque quem critica também o faz no uso da sua própria liberdade.

Nada é exactamente como parece, nem na vida, nem sequer nos sonhos. Há, porém, certos acontecimentos na nossa vida quotidiana, enquanto entidade colectiva, que extravasam a própria ficção. Insólitos a que não ficamos indiferentes. Nos últimos tempos têm surgido como cogumelos. Regras de sã convivência pressupõem, no mínimo, cumprimentar as pessoas. Ponto.

Com arrogância e prepotência pode-se até ir longe, mas com humildade e respeito certamente chegar-se-á onde se quiser. Não esqueço do que me fazem nem do que me dizem. As feridas saram mas deixam cicatrizes. Seria importante perceber que liberdade, equidade e fraternidade não são tretas, mas o ”alimento” que faz a vida crescer melhor. Infelizmente, a estupidez é contagiosa e demasiadas vezes é ela a vencedora.

Há quem tenha da sua pessoa uma dimensão estratosférica, mas não revela grande estofo para aguentar um saudável escrutínio e exercício da crítica. Não é legítimo, por voluntarismo ou simpatia com o que ou quem quer que seja, utilizar recursos públicos em processos que lesam uns e beneficiam outros.

É tão triste o panorama que o silêncio talvez fosse o mais recomendável, pois a minha opinião não estará propriamente em sintonia com a harmonia que a quadra natalícia requer. Mas é mais forte do que eu. Pede-se respeito para si próprio, num ostensivo desrespeito pelos outros. Tal comportamento não dignifica nem preconiza qualquer tipo de simpatia. O coeficiente emocional não evoluiu nada. Os sentimentos de aversão, ódio, vingança, ambição, prepotência e arrogância são idênticos aos do Homem das Cavernas, apenas com meios mais sofisticados ao dispor. Contam com a ajudinha providencial da Comunicação que torna superlativos acontecimentos vulgares e reduz ao silêncio outros que mereciam a primeira página das nossas inquietações, esquecimentos, revolta, etc.

Em mentes colapsadas o ódio e desejo de vingança continuam bem acondicionados. Qualquer observação inesperada é susceptível de ferir sensibilidades e desencadear uma avalanche irreversível de frieza e até algum desprezo. No entanto, corre-se a celebrar o Natal, a praticar a solidariedade, a caridade... A hipocrisia é embrulhada em papel muito vistoso. “Ainda não se interiorizou que tudo o que é feito de coração dispensa barulho, aparição e aplausos”.

Estamos pior. É factual.

É “tanta parra e pouca uva”, ou tanto “barulho” para tão pouco!

P.S. Esta será a última carta de 2024. Agradeço a oportunidade que me foi dada pelo D.N. da Madeira a quem endereço os meus cumprimentos de Boas Festas, bem como a todos os seus colaboradores.

Madalena Castro