Sobre a crescente descredibilização da política
Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente descredibilização da política, em resultado da atuação dos seus protagonistas, que de uma maneira geral e predominantemente, demonstram não só impreparação cultural, como déficit noutros ingredientes principais, como seja a sensibilidade para a dimensão da alteridade (no sentido de se colocar no lugar do outro) e da imprescindível dimensão ética. Esta realidade origina não apenas o enfraquecimento da confiança dos cidadãos na política e nas suas visões ideológicas, mas também nos seus protagonistas.
A política está gravemente minada por vários fatores decadentes, como seja a corrupção, a qual será uma das principais causas que minam o seu exercício. Escândalos frequentes, têm vindo a reforçar a perceção pública de que há uma tendência instalada, para que muitos políticos atuem em benefício próprio, em detrimento do interesse público. Depois, temos o uso da Polarização e Retórica de Ódio, que alimenta as divisões entre os cidadãos e intensifica o sentimento de desconfiança em relação ao “outro lado”. Além disso, a retórica agressiva e o uso de notícias falsas por alguns protagonistas da política, mina debates construtivos e afasta a instalação ou manutenção, dos moderados. Temos também a contínua Ineficácia na Resolução de Problemas Sociais, com sucessivos governos a demonstrar a incapacidade em lidar com questões fundamentais, como desigualdade, falta de habitação, desemprego, baixos salários, saúde pública, justiça e mudanças climáticas, o que cria uma perceção de incompetência e desconexão entre os políticos e a realidade enfrentada pela população. Por outro lado, é notório que poderá haver Influência de Interesses Privados nos Atos Governativos, já que haverá decisões políticas frequentemente induzidas por grandes corporações ou grupos de interesse, em detrimento do Bem Comum, gerando um elevado descontentamento nas populações. Temos também o problema trazido pelo Impacto das Redes Sociais, que vieram amplificar tanto a visibilidade dos erros políticos, como a hipocrisia da generalidade da classe política. Ao serem rapidamente publicados erros ou falhas, a difusão de informações falsas e teorias conspirativas, é semeada uma visão distorcida ou negativista da política, aumentado o desagrado da população e potenciando a sua revolta. Como consequência deste cocktail, surge espaço para a Instalação e Crescimento de Populismos, com o surgimento de figuras populistas, que prometem soluções simples para problemas complexos e se apresentam como estandartes do “antissistema”. Outra consequência é a Baixa Participação Eleitoral, pois eleitores desiludidos, tornam-se menos propensos a participar em eleições, resultando em taxas de abstenção alarmantes, que enfraquecem a legitimidade democrática, e por fim, a Erosão Institucional, já que a falta de confiança nas instituições que sustentam o Estado de direito democrático, pode levar ao enfraquecimento de mecanismos democráticos e ao crescimento de discursos autoritários. Então o que fazer para reverter a situação? Talvez começar pela necessária Transparência e Responsabilidade, onde políticas, políticos e instituições, deverão adotar práticas mais transparentes e prestar contas de forma clara e frequente à sociedade. Já no domínio da Educação Política, incentivar a educação política pode ajudar a formar cidadãos críticos e comprometidos, e menos suscetíveis às manobras de manipulação. Torna-se essencial, apostar fortemente no fortalecimento das Instituições, investindo na autonomia e na renovação das instituições democráticas, nos sistemas judiciários independentes e nos órgãos de fiscalização. Por último, empreender a Valorização do Diálogo e da Participação, já que é importante restituir o diálogo genuíno entre políticos, assim como com diferentes setores da sociedade, promovendo uma política mais inclusiva e de pendor colaborativo. A descredibilização da política é um desafio multifacetado e hoje global e enfrentá-la exige esforços coordenados entre líderes políticos, sociedade civil e cidadãos, para restaurar a confiança e renovar a legitimidade das práticas democráticas. Para a sua reorientação, filósofos como Ernst Bloch (1885-1977), sugerem que uma utopia é necessária para imaginar um mundo melhor e manter uma esperança ativa. Combater a descredibilização dos políticos atuais, requer um esforço coletivo que combine ética, pensamento crítico e ação transformadora. É necessário ir além do mero protestar contra os erros do presente e construir, com base em princípios sólidos, uma nova conceção de política que seja mais transparente, mais participativa e conducente ao ideal do Bem Comum. Como o longínquo Aristóteles (384 aC-322 aC) ou o contemporâneo Jurgen Habermas (1929-) e outros nos lembram, a política, na sua essência, deve ser a busca contínua da justiça e da convivência harmoniosa.