Haverá algum ídolo plantador de batatas?
Às vezes dou por mim a pensar o que vai na cabeça dos nossos jovens. Todos querem ser cantores famosos porque aparentemente dá-lhes protagonismos (aliás parece o vírus do século), toda a gente os conhece, falam deles, nas redes sociais são idolatrados, nos meios de comunicação são autênticos (deuses). Parece que a imagem que se pretende passar dos cantores, artistas, futebolistas, enfim todos esses ídolos modernos servem de modelo e motivação para que a nossa juventude se sinta impulsionada e motivada para enveredar por essas carreiras. Qual não será a criança que pretende ser um dia Cristiano Ronaldo? E pensar que até existem pessoas que através das redes sociais ganham dinheiro e são denominados de influencers. Mas será que esse tipo de atitude lhes garante algum futuro? Dificilmente se promovem cientistas, empresários com dignidade e sucesso, investigadores, enfim um sem número de profissionais que poderia e deveriam ser modelo para os nossos jovens e promovida as suas capacidades e o seu sucesso servindo de motivação a muita gente. O grande incentivo é sempre apresentado pelo sucesso e os dividendos que possam vir a beneficiar e nisso os meios de comunicação são exímios e promotores desses modelos colocando de lado tantos e tantos meios de sucesso profissional. A falta de mão de obra qualificada, de profissionais de diversas áreas, pedreiros, carpinteiros, pintores, mecânicos, eletricistas, enfim todas essas profissões essenciais no dia a dia das pessoas, raramente se vêm jovens motivados para essas áreas o que à partida parece ser até um tanto ou quanto depreciativo, inferiorizante e até insultuoso quando alguém opta por essas profissões. Para não falar de pescadores, agricultores que aí sim, jamais um povo será livre e autónomo se não produzir minimamente aquilo que consome, carne, peixe, legumes, hortaliças, frutas etc., bens essenciais para a sua sobrevivência. Porque até aqui os governantes nunca se preocuparam na verdadeira formação profissional básica da sociedade, porque progressivamente foi sendo desvalorizada e de certa forma foi ultrajante e menosprezada essas opções, agora reclama-se a falta de mão de obra é um caso calamitoso, o aumento dos preços dos bens essenciais são cada dia mais agravados, e pasmem-se! ainda esta semana soube-se que a Câmara Municipal de Lisboa criou um plano (PMPSSA) aprovado a 28 de maio deste ano, para tentar solucionar o problema de sem abrigo, mas não os que deambulam vulgarmente pela cidade, nada disso, pessoas que trabalham, mas que não conseguem ter meios de suportar os custos duma vivenda para si e a sua família «trabalhadores sem abrigo». É caso para dizer: até onde a nossa sociedade continuará a ser indiferente perante este tipo de flagelo que 50 anos de suposta democracia continuam a promover a miséria e cada vez mais fomentar a pobreza. Não é que até os concursos televisivos e as casas de apostas incentivam ao dinheiro fácil num país onde mais de 3,5 milhões são pensionistas, 8,5% dos jovens não estudam e não trabalham, de 1 milhão e cem mil deles entre os 15 e 24 anos, ou seja 50% da população depende da restante para sobreviver. Uns trabalham para sustentar aqueles que nada produzem, qual será o futuro da nação?
A. J. Ferreira