A política como pedagogia do exemplo
Mas não é líder quem quer. É líder quem é forte o suficiente para servir de exemplo. Não há maior exemplo do que a bondade
Somos seres contraditórios, feitos de culturas, matéria, medos, coragem e outras tantas caraterísticas que nos tornam únicos. Não nos fizemos sozinhos. Dos gregos clássicos herdamos o pensamento racional, a ciência e a cultura especulativa. Da tradição judaico-cristã, o misticismo da transcendência e de uma moral categórica. A angústia da vida e da morte. Foi o duplo ganho da notícia acerca da moral, da liberdade, do cosmos, da política e da ética. Das duas heranças, ficou-nos o entendimento de que a vida política é a realização progressiva da vida moral.
- “O que queres ser quando cresceres?”
- “ Bondoso”, disse o menino.
- “Para ti, o que é o sucesso?” perguntou o menino.
- “Amar”, disse a toupeira.
-”Qual foi a coisa mais corajosa que alguma vez disseste?”, perguntou o menino.
- “Socorro”, disse o cavalo.
(Mackesy, 2022)
Uma moral é fruto de um movimento educativo que faz com que os homens e mulheres autênticos vejam que o problema da moral existe, isto é, existe o problema da moral da sua comunidade, o que não significa que este seja um problema moral. Mas será sempre um problema da liberdade. A liberdade, em política, tem sido mais usada para defender grupos e interesses, do que para servir de reflexão sobre o futuro que é de todos nós.
A política deveria ter como objetivo realizar a liberdade razoável, isto é, procurar a satisfação e felicidade dos homens e mulheres sensatos. Ou seja, para alguns autores, como Eric Weil, o fim da política transcende a própria política e o plano da felicidade já não é do plano da política, pois é o indivíduo que, em si e para si mesmo, deverá encontrar e realizar a sua felicidade. Claro que estamos num plano teórico.
Em princípio não é possível ser feliz sem essa relação com o outro e sem o sentimento de pertença, isto, sem que nos sejam dadas condições para essa felicidade. Haverá sempre os que dizem que uma vida confortável não traz felicidade. “No entanto, estes pequenos nadas colocam-nos na situação daquele homem rico que o dinheiro não tornava o homem feliz, mas que só quem tivesse dinheiro em abundância estava em condições de escolher a infelicidade preferida” (Weil, 2000).
A política caiu na rua e, em vez de promover o bem comum, enfrenta desafios éticos e morais. Os seus alicerces erguem-se em terra arenosa e os seus princípios mais básicos, como fomentar a Justiça e Igualdade, tremem a par dos espaços de corrupção e opressão. O seu propósito está comprometido: garantir a liberdade e o bem-estar coletivo.
Não pretendo, com esta opinião, dar lições sobre o que é intrínseco a nós: a consciência ética que nos orienta e nos fala ao ouvido por cada decisão tomada. Mas é mais ou menos evidente que quando os líderes políticos se afastam dos valores éticos e dos princípios morais, as consequências recaem sobre a sociedade e o que se ganha em gozo perde-se em confiança. É fundamental que exemplos de liderança inspirem os cidadãos. Refiro-me à política como pedagogia do exemplo. Mais do que discursos, precisamos de ações concretas e exemplares que moldem a perceção popular sobre valores como a honestidade e responsabilidade.
As práticas corruptas ou negligentes votam-nos a um tipo pobreza social fétida e perpetuam a desilusão e o cinismo. É a cacofonia no seu auge.
A transformação social passa pela exemplaridade. O seu impacto ultrapassa as palavras e atinge o núcleo dos valores coletivos. Os governantes e agentes públicos não elaboram apenas leis ou tomam decisões administrativas. Eles moldam comportamentos coletivos através das suas atitudes. Os antigos sabiam bem o que queriam significar com a ideia de liberdade: era fortalecer o carácter humano, não cedendo à corrupção da alma. Mas não é líder quem quer. É líder quem é forte o suficiente para servir de exemplo.
Não há maior exemplo do que a bondade.
Boas Festas.