Gouveia e Melo, (alguns) políticos e comentadores
Está dado o tiro de partida para as eleições presidenciais, a realizar em 2026. Parece ser tal a expectativa para se saber quem serão os candidatos que irão a votos para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa, que pouco ou nada se tem falado das importantes eleições Autárquicas lá para Setembro/Outubro do ano que vem. Muitos nomes têm vindo por isso “à baila” nos últimos tempos, uns lançados em surdina pelos próprios partidos para testar a sua popularidade junto da população, outros que simplesmente se tentam colocar em bicos de pés para ver se alguém se lembra deles ou se os chama para lhes dar o apoio. Entre todos estes uma excepção. O (ainda) Almirante Gouveia e Melo, responsável pela organização bem sucedida do programa de vacinação contra o COVID-19, num dos momentos mais críticos do passado recente da nossa história. Um homem das Forças Armadas, longe dos olhares e dos selos partidários que parece recolher, segundo todas as sondagens, a preferência dos cidadãos. O que parece assustar muita gente.
Rapidamente militantes das mais variadas forças partidárias e alguns comentadores (supostamente isentos) apressaram-se a criar uma narrativa assente em suposições e na construção de uma imagem pouco abonatória. Houve até quem se auto-proclamasse a voz do povo, dizendo que “não é nada disto que nós queremos”. Foi o caso da comentadora Ana Sá Lopes que disse que “o discurso de Gouveia e Melo é grave” destacando as “entrevistas patéticas”, chegando ao ponto de afirmar “este fascínio português por homens que mandam mete algum medo (…) é de todo este caldo cultural que nasce o sucesso do Almirante”. Parece-me que o que estas pessoas ainda não perceberam é que as candidaturas para presidente da República são supra partidárias e que não tem que ser obrigatoriamente no espaço político que se encontram as soluções. Entendo que escolher alguém que não controlam e não conseguem condicionar possa meter algum respeito mas ainda é assim que as coisas funcionam no nosso país.
A verdade é que o cidadão comum está cada vez mais descontente com a política e que é natural que veja como boa, uma proposta diferente do habitual, de alguém que possa (aparentemente) impor sentido de Estado, valores e ética. Quanto a Henrique Gouveia e Melo, parece-me evidente que a sua candidatura será uma realidade, só falta definir o timing de apresentação da candidatura. Terá por isso um desafio enorme, de conseguir escapar às diversas ratoeiras que lhe serão colocadas no caminho e só o conseguirá fazer através de uma comunicação assertiva, clara e afastada de polémicas e confusões. Já todos percebemos que não terá vida fácil mas quanto mais os do costume vociferarem contra ele, melhor posicionado aparecerá nas sondagens e quanto menos responder a este tipo de tentativas de condicionamento mais perto estará da vitória.
Falta ainda muito tempo. Mais de um ano. Caberá agora ao mais que certo (e favorito) candidato dizer, a seu tempo, ao que vem e quais serão as suas ideias em diversas matérias, nomeadamente o seu posicionamento em relação à política externa. Seria também bom que ao epíteto de homem sério e disciplinador lhe conseguisse juntar uma veia humanista e próxima dos anónimos que fazem Portugal andar para a frente. Quanto ao resto já dizia o ditado popular, “os cães ladram e a caravana passa”…