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Um bando de loucos

Não questionando minimamente a legitimidade democrática de qualquer um dos quarenta e sete deputados que constituem ou constituíram, em cada tempo, o órgão máximo da nossa Autonomia, a circunstância política atual dá um outro sentido a expressão utilizada, há 16 anos, pelo anterior Presidente do Governo, senão vejamos:

Houve um partido que deu entrada de uma moção de censura por considerar que o executivo em exercício não reunia as condições necessárias para governar. Com o desenrolar do processo surgiu a possibilidade de adiar essa censura para mais tarde. Nisto, há um outro partido - que não qualquer dos anteriores - que concorda com esse adiamento. Invoca, nesse contexto, a necessidade de um orçamento regional para 2025, que garantiria (alguma) estabilidade, impedindo que o atual líder do Governo se pudesse vitimizar em campanha eleitoral. No entanto, dois dias após a viabilização do adiamento da moção de censura – para a qual o respetivo voto foi determinante – o referido partido declara que a responsabilidade de aprovar o orçamento é de quem censurou o governo. Isto, de facto, se não fosse sobre a nossa vida seria giríssimo.

O descrédito das instituições e da atividade política faz-se também destes momentos. Concordando ou não com quem venceu as eleições, as pessoas esperam da política muitas coisas, mas em particular uma: é que, não podendo ajudar, no limite não se desajude. Perante décadas a cramar pelo fim das maiorias absolutas do PSD, os partidos da oposição – tendo a oportunidade de contribuir para o futuro da Madeira, negociando, impondo e demonstrando que também eles são agentes de estabilidade, respeitando os resultados eleitorais, sem nunca prescindir das suas políticas – o que fazem? Não dialogam, não propõem, nem querem saber do orçamento. Prosseguem apenas um propósito: o poder pelo poder.

Apesar de fascinantes, os “jogos do poder” significam muito pouco para a população trabalhadora. Aquilo que a coeva realidade política propicia é o afastamento e desinteresse daqueles que se movem pelo bem-comum. Sendo certo que o relativismo cultural e o individualismo imperam hoje nas relações humanas, a política deveria revelar-se o campo precisamente oposto, onde o altruísmo, o interesse coletivo e os horizontes comuns constituíssem a tónica diária. Todavia, a classe política na Madeira oferece-nos o contrário: demonstra que primeiro está a sua circunstância pessoal e só depois a Madeira. No entanto, propomos uma ordem alternativa: primeiro a Madeira, depois o partido e por fim, havendo espaço, a circunstância pessoal de cada um.

Cada ato da vida política madeirense que promova instabilidade é um rastilho para todos quantos acham a Autonomia um mal necessário para se realizar abril. Se era para chumbar o orçamento, porquê adiar a moção um mês?

Não aprovar um orçamento é dar razão a Alberto João Jardim: “o parlamento é a casa de um bando de loucos” que dão “uma péssima imagem da Madeira.”