Primeiro-ministro manifesta respeito e gratidão pelo contributo de Mário Soares
O primeiro-ministro manifestou hoje respeito pelo legado político de Mário Soares, gratidão pelo seu contributo para a democracia e admiração pela coragem política, por ocasião do centenário do seu nascimento.
"No centenário de Mário Soares, coincidente com os 50 anos do 25 de Abril, expresso respeito pelo legado político, gratidão pelo contributo para a democracia e admiração pela coragem política", escreve Luís Montenegro, num artigo hoje divulgado no jornal Público, intitulado "Mário Soares é Democracia e Política".
Montenegro referiu ter crescido a ouvir falar do comício da Fonte Luminosa, no verão de 1975, e recordou o "discurso para a história" feito nessa ocasião pelo antigo secretário-geral do PS, em que apelou aos portugueses que não tivessem medo.
"Perante a ameaça totalitária que pairava sobre o caminho para a democracia no nosso país, Mário Soares expressou o sentimento da grande maioria do povo português", destacou o primeiro-ministro.
O chefe do Governo salientou a luta de Soares "contra o extremismo, pela democracia, que prevaleceria no 25 de Novembro e ficaria consolidada na Constituição de 1976 e na sua revisão de 1982".
"Nesses anos, com Francisco Sá Carneiro, Ramalho Eanes, Diogo Freitas do Amaral e Álvaro Cunhal, cada um com as respetivas visões e méritos, escreveu as páginas fundadoras e estruturantes da democracia portuguesa", considerou.
Montenegro acrescenta que nem a distância geracional nem a "evidente diferença ideológica" o impedem de reconhecer o contributo de Mário Soares para a história de Portugal, "designadamente a defesa incansável da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e da integração europeia".
"Uma constante ao longo da vida, como advogado, parlamentar, ministro, primeiro-ministro e Presidente da República, que, com elementar justiça, faz dele um dos principais responsáveis pela inscrição daqueles valores no Portugal contemporâneo", destaca.
Montenegro recorda o antigo primeiro-ministro e Presidente da República como um "político por inteiro", com "um notável faro político e capacidade de resistência".
"Foi na chefia do Governo que mais evidenciou pragmatismo, quer em alianças com adversários, quer sacrificando a popularidade e o eleitoralismo perante a necessidade dos dois pedidos de ajuda externa que a realidade impôs e a execução dos respetivos programas que o sentido de responsabilidade determinou. E, mais tarde, no apoio à revisão constitucional de 1989, em que colocou interesses nacionais acima de divergências partidárias e pessoais. Ganhámos todos", salientou.
O primeiro-ministro diz guardar "com elevado valor democrático as amáveis palavras de reconhecimento no desempenho da liderança parlamentar" que lhe dirigiu quando se cruzaram, "por altura do Governo que recuperou Portugal depois do terceiro resgate e que ele tão injustificadamente criticou".
E termina o artigo citando palavras de Mário Soares, "sempre atuais": "É preciso confiar no povo português. Eu confio no povo português e no génio do povo português. Um povo que tem a história que tem Portugal e que fez aquilo que fez, incluindo a revolução do 25 de Abril, que realizou todos os seus objetivos, um país que consegue ter as melhores relações com África e com as antigas colónias portuguesas. (...) Tenho confiança no futuro de Portugal e dos portugueses. Sempre tive", refere.
A Assembleia da República evoca hoje a figura do histórico dirigente socialista Mário Soares, que no sábado faria cem anos, com o mesmo modelo da sessão que assinalou o 25 de Novembro de 1975, com honras militares e encerrada pelo Presidente da República.