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Comissária europeia considera novo veto às mulheres afegãs "obscurantista e imediatista"

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A comissária europeia para a Igualdade, Hadja Lahbib, considerou hoje escandalosa a nova proibição "obscurantista e imediatista" imposta pelos talibãs às mulheres afegãs, que agora também não podem frequentar institutos médicos e semiprofissionais para receberem formação.

"A decisão de negar às mulheres e às raparigas o acesso a estudos relacionados com a saúde criará uma lacuna neste setor crucial. Esta decisão escandalosa fecha a última porta ao ensino superior para as mulheres", lamentou Lahbib, numa mensagem nas suas redes sociais.

O novo veto, o último de uma longa lista desde o regresso dos talibãs ao poder em 2021, "não só é inaceitável, como reflete a visão obscurantista e imediatista do regime talibã", frisou a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros belga.

Esta decisão "prejudicará as mulheres, as raparigas e toda a população afegã, que já é muito vulnerável", vincou.

A proibição acaba com a última lacuna deixada para as mulheres no Afeganistão terem acesso ao ensino superior.

A ONU condenou hoje o novo "golpe" dos talibãs nos direitos das mulheres, ao proibi-las de estudar em escolas de medicina, limitando ainda mais as suas oportunidades de trabalhar e a sua participação na vida pública em geral.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertou de que a decisão representa "mais um golpe devastador para os direitos das mulheres e raparigas no Afeganistão" e sublinhou que a medida poderá levar a mais mortes, devido às suas consequências a longo prazo no sistema de saúde do país centro-asiático.

A porta-voz do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Ravina Shamdasani, considerou que a decisão "é mais um golpe direto das autoridades 'de facto' contra as mulheres e as meninas afegãs" e "a mais recente de uma série de medidas discriminatórias" em vários domínios que "sequestram o futuro do país".

"A medida é profundamente discriminatória, míope e põe em risco a vida das mulheres e das meninas de várias formas: elimina a única via que restava às mulheres e raparigas para acederem ao ensino superior e dizimará uma oferta já inadequada de parteiras, enfermeiras e médicas", frisou.

A decisão, aprovada pelo líder supremo do grupo, o 'mullah' Hebatullah Ajundzada, foi transmitida ao Governo durante uma reunião com altos responsáveis do Ministério da Saúde em Cabul, na segunda-feira, segundo a estação de televisão afegã Amu TV. Estas instituições de ensino eram das poucas que ainda mantinham as portas abertas à educação feminina no país.

A nova proibição impedirá que as estudantes participem em cursos para se tornarem parteiras, dentistas ou enfermeiras, o que terá um impacto ainda maior na escassez de pessoal nos hospitais e noutros centros de saúde.

Existem mais de 160 escolas de medicina no país, incluindo dez institutos públicos em Cabul e em várias províncias, de acordo com a agência afegã Jaama Press.

Os fundamentalistas já fecharam, em dezembro de 2022, as portas das universidades às estudantes, o que levou muitas a procurar educação nestes institutos para prosseguirem os estudos e tentarem aumentar as hipóteses de conseguir um emprego, o que também é dificultado pelas restrições.

Os talibãs promulgaram em agosto a chamada "Lei para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício", institucionalizando a discriminação das mulheres e alargando as restrições, entre as quais uma "lei do silêncio", que estipula que as vozes das mulheres só podem ser ouvidas "em casos de necessidade".