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A Não Liga aos Combatentes

Ao longo dos anos como jornalista de Defesa Nacional conheci de perto a Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que dá pelo nome de Liga dos Combatentes da Grande Guerra. Vulgarmente conhecida como Liga dos Combatentes, por aqui apresenta-se como Liga dos Combatentes do Ultramar. Nada mais estranho. Uma Liga formada em 1960 nunca poderá ser dos combatentes do Ultramar porque grande parte dos homens que foram depois para a Guerra ainda estava a ver crescer os primeiros pelos da barba. Parece que cada um que entra numa guerra, muda o nome para o que lhe convém.

A presidente da Câmara da Ponta do Sol, que de burra não tem nada, já se prepara para mudar a placa e retirar o nome Ultramar que assinala a “inauguração” do monumento que eles chamam seu. Sábado passado foi mais uma desgraça. O ainda presidente da Liga, talvez inspirado no Moda Madeira, não queria deixar desfilar na passerelle imaginada por si os Combatentes (com maiúsculas, sim) que não pagam quotas e que não estão trajados a rigor. Antes desse senhor chegar à presidência do único órgão que lhe deu projeção na Região, eu e alguns outros jornalistas íamos às festas de angariação de fundos, na Rua do Ribeirinho. E posso garantir-lhe que antes da sua chegada ao poder a coisa dava-se. Reuniam-se fundos, ajudavam-se pessoas.

Infelizmente, as últimas duas décadas foram de deserção. Os sócios praticamente desapareceram e a direção fechou-se no Paiol, onde consta que anda fazendo casas de banho ad hoc, sem qualquer planeamento estético. Talvez para lembrar África. Tenho pena que a Liga esteja em coma, mas também tenho pena que ninguém tenha querido pegar no barco antes que ele encalhasse. Enquanto isso, o que se diz combatente andava a perseguir pessoas para fazer as obras. Também concordo. Aqueles homens, alguns com mais de 80 anos, podem acartar uns baldes de massa numa mão e segurar a algália na outra. E a meio do caminho podem tomar remédios para o coração não pagos com o dinheiro da Liga. Estou em crer que a preocupação do dito não é com os remédios, mas sim com o que não tem remédio. E quando entra pelas câmaras ao colo de um militar no ativo, já chega em glória e com o escultor, ex-deputado do PSD, com vários desenhos e preços debaixo do braço. Mas dizem aos autarcas que podem escolher outro escultor. Se a intenção fosse boa, não iam à reunião com o escultor de braço dado. Mas enfim...

Espero que os Combatentes voltem e espero que a nova direção da Liga seja isenta e se afaste da fogueira de vaidades que até agora arde no Paiol. Espero que os Homens corajosos que, envergonhados, queriam vir embora da Ponta do Sol e que ficaram por insistência da presidente, que foi quem pagou a conta, possam reentrar de cabeça erguida na Liga. E aqueles que não tenham dinheiro para pagar quotas possam beneficiar de tudo o que a Liga pode oferecer como IPSS. Devemos-lhes esse respeito.