Netanyahu afirma que investigações sobre escândalos são um "golpe de Estado"
O primeiro-ministro israelita classificou hoje como "políticas" e "um golpe de Estado" as investigações que visam o gabinete governamental sobre alegadas fugas de documentos secretos e tentativas de alterar as atas das reuniões anteriores ao 07 de outubro.
Benjamin Netanyahu respondia às acusações do antigo chefe do Shin Bet (serviços secretos internos israelitas), Yoram Cohen, que afirmou hoje que o primeiro-ministro tinha solicitado a vigilância de pessoas envolvidas num projeto de defesa "sensível".
"O primeiro-ministro procurou proteger um segredo de Estado vital, aceitou as recomendações do sistema jurídico, agiu de acordo com a lei e não violou os direitos de ninguém", afirmou o gabinete de Netanyahu num comunicado, sem negar as alegações de Cohen.
"A verdadeira ameaça à democracia em Israel não vem dos representantes eleitos, mas sim dos responsáveis pela aplicação da lei que se recusam a aceitar os direitos dos eleitores e tentam levar a cabo um golpe de Estado com investigações políticas desenfreadas", referiu o mesmo comunicado.
O líder do partido da oposição Unidade Nacional, Benny Gantz, afirmou, na rede social X, não estar surpreendido com as acusações de Cohen, que remontam a um incidente em 2018, quando Gantz ainda era chefe do Estado-Maior israelita.
"Lembro-me bem da atmosfera tóxica e suspeita que rodeava o primeiro-ministro durante o período de que falou o antigo chefe do Shin Bet", disse Gantz.
"O Estado de Israel merece um primeiro-ministro que se concentre na guerra contra o Irão e o terrorismo, e não na guerra contra o sistema de segurança", afirmou.
Este escândalo, entre outros, e leis controversas têm provocado cada vez mais divisões em Israel relativamente à governação de Netanyahu, que irá testemunhar a 10 de dezembro num processo de corrupção que se arrasta desde 2020, numa sala de audiências subterrânea fortificada em Telavive.
O principal porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, criticou na quarta-feira um projeto-lei, apoiado pelo Governo esta semana, que permitiria aos membros do exército e dos serviços secretos divulgar documentos confidenciais ao primeiro-ministro ou ao ministro da Defesa sem autorização.
"O exército não esconde informações da liderança política. O exército trabalha em conjunto com os dirigentes políticos para a defesa de Israel", disse Hagari numa conferência de imprensa, qualificando o projeto-lei, que passou na primeira votação de três no parlamento, de "perigoso" para a segurança do Estado.
O projeto-lei, apelidado de "Lei Feldstein", surge num contexto de uma batalha legal sobre o caso "BibiLeaks", no qual, Eli Feldstein, porta-voz de Netanyahu, e um oficial de reserva são acusados de conspirar na divulgação de material confidencial nos meios de comunicação social para encorajar a opinião pública contra um acordo de reféns com o Hamas.
O Supremo Tribunal de Israel ordenou hoje que os suspeitos permanecessem detidos até segunda-feira, altura em que anunciará a sua decisão final sobre o recurso da acusação contra a decisão de um tribunal de Telavive de manter Feldstein e o oficial de reserva em prisão domiciliária.
O chefe de gabinete de Netanyahu, Tzachi Braverman, foi também acusado de extorquir um vídeo comprometedor a um militar do gabinete do primeiro-ministro para que este alterasse as atas das reuniões que antecederam os atentados do Hamas de 07 de outubro, bem como as chamadas telefónicas efetuadas na manhã do ataque, segundo a imprensa israelita.
O movimento islamita palestiniano Hamas atacou o sul de Israel em 07 de outubro de 2023, causando cerca de 1.200 mortos e fazendo mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Desde então, a retaliação israelita já causou a morte de 44.580 em Gaza, a maioria civis, segundo os dados hoje divulgados pelo Ministério da Saúde do enclave palestiniano, tutelado pelo Hamas, considerados fiáveis pela ONU.