"Ainda há quem se importa"
Encontro de Voluntários juntou empresas e particulares que dão tempo e mais. Nilton trouxe humor e experiência pessoal
Esta manhã foi tempo de dar tempo a quem dele despende em nome do outro. O XI Encontro de Voluntários da RAM - Celebração do Dia Internacional do Voluntário que decorreu no Centro Cultural e de Investigação do Funchal foi uma oportunidade para reconhecer alguns dos muitos que alinham nas muitas causas, que mostram que “ainda há quem se importa”, como sublinhou Helena Correia, presidente da Casa do Voluntário. O programa incluiu a atribuição de prémios. Além da intervenção de representantes de cinco empresas que na Madeira são promotoras de boas práticas, também Nilton participou. Com muito humor falou das muitas formas de fazer voluntariado, dos involuntários que o ajudam no dia-a-dia de humorista, e de uma forma mais séria das causas que abraça.
O humorista ao longo de quase uma hora brindou os presentes com situações hilariantes que promoveu ao longo da sua carreira e em que os voluntários ‘à força’ foram essenciais, mas falou também num outro tom da importância de olhar o outro, “temos essa obrigação”, defendeu, e das situações em que pessoalmente se empenhou.
Nilton confessou que já pensou em criar uma associação para ajudar e que se o fizesse se chamaria Tempo, pois é sobretudo de tempo que se fala quando se fala de voluntariado. Mas há muitas formas de ajudar, nomeadamente na “ligação dos pontos”, como lhe chama, e que não é mais do que desbloquear situações, garantir que cada um à sua medida ajuda a concretizar coisas que à partida até poderiam parecer impossíveis, mas que alguém que conhece alguém que até tem essa capacidade concretiza. Por vezes basta parar para pensar e em muitas situações são coisas básicas, lembrou.
Para Nilton, fazer voluntariado é “estar atento às necessidades da comunidade, do outro”. E é também a “atitude”. Falou, com humildade, dos casos em que ajudou, conhecidos e desconhecidos, e que por vezes o difícil é fazer a triagem de a quem ajudar. Parte dessa escolha tem a ver com as circunstâncias, revelou.
Em contrapartidas, destacou o sentimento de bem que leva para casa. “Tu sabes que ajudaste alguém”. E ninguém ajuda mais ou menos, defende. “É a união dos pontos que contribui para algo. E no fim do dia sentes-te bem, sabes que mudaste a vida de alguém, um bocadinho”. Não sendo esotérico, o humorista confessou que acredita que o bem acaba por retornar a quem o pratica.
Sobre os limites ao humor, diz que estão do lado de quem o escuta e em situações em que é contratado numa autocensura, por “respeito” à empresa ou associação que o convidou.
A actualidade em Portugal é sempre muito fértil, há sempre assunto, como disse. “É não ter medo da folha em branco”.
Sobre o voluntariado, recomendou às pessoas que identifiquem uma causa ou associação com que se identifiquem; escolher uma coisa que os faça sentirem-se úteis e dêem parte do seu tempo ao outro.
Alguns voluntários deixaram testemunhos. Rita Pestana, da Liga Portuguesa Contra o Cancro, disse que é voluntária para devolver à sociedade o que de bom a sociedade já lhe deu e continua a dar; para contactar com realidades diferentes da dela; porque contribui para a sua saúde mental e emocional; porque promove novos relacionamentos; porque aprende sempre algo de novo; e porque assim contribui para uma boa causa.
Ontem foi premiado o voluntário mais jovem, Francisca Sousa, de 23 anos; os voluntário mais antigos, Maria Manuela Sumares e António Jorge Pinto; a voluntária Adelina Pereira Jesus, de 86 anos; e Ramiro Morna do Nascimento, o coronel que esteve à frente da Cruz Vermelha, aplaudido de pé pelo trabalho desenvolvido.
A Casa do Voluntário, que organizou o evento, promove e divulga o voluntariado na Região através de várias iniciativas ao longo do ano. “Falarmos diariamente de voluntariado é muito positivo porque vai entrando na cabeça das pessoas”, acredita Helena Correia. “Nós somos um povo solidário”, disse. “É uma questão só de despertar porque o bichinho já lá existe”.
O encontro contemplou ainda um painel dedicado à Responsabilidade Social. Participaram José Carlos Salvado, em representação da Missão Continente; Fabíola Pereira em nome do Porto Bay; José Manquinho, em representação da Ageas Seguros; Miguel Caires, da empresa Alberto Oculista; e Pamela Araújo, em nome do Grupo Blandy.
Fabíola Pereira faz voluntariado a título pessoal e institucional. “As empresas são pessoas e portanto nós acabamos por levar os nossos valores para as empresas”, disse, revelando que a Porto Bay é uma empresa com muitos valores, sendo a componente de solidariedade social natural e já longa no tempo.
Há acções mais e menos conhecidas do público em geral. “No fundo é entregar também à sociedade. É a nossa cidadania social”, disse a administradora. Sobre a origem deste espírito solidário, assume: “Está nas nossas raízes, está nos nossos líderes também. E depois isto acaba por ser uma pescadinha de rabo na boca, porque dos líderes passa para os colaboradores e dos colaboradores vem aos líderes. Vai acabando por ser algo muito inato”. Entre os vários projectos, destaque para o ‘Somos Porto Bay’, que contempla passes sociais, bolsas de estudo e cabazes para os colaboradores. Para fora destaca-se o apoio à cultura e o ‘Hope’, onde distribuem verbas doadas pelo grupo e pelos hóspedes dos vários hotéis da cadeia.
O Grupo Bandy também promove boas-práticas. “O dar de volta à sociedade um pouco do que as empresas receberam sempre esteve no ADN do grupo”, sublinhou Pâmela Araújo. “Nós ao longo dos anos temos tido esse papel discreto, temos um posicionamento discreto, é propositado”, revelou, acrescentando que de há três anos juntaram a responsabilidade ambiental ao conceito de voluntariado e criaram a marca interna ASAS – Ajuda Solidária Ambiental e Social. O desafio agora é progredir e envolver cada vez mais os colaboradores.
Já a Ageas actua em várias frentes, contou José Manquinho. O envelhecimento é um deles, dão apoio às pessoas reformadas através de actividades, combatendo o isolamento. Depois apoiam pessoas com necessidades especiais, sejam deficiências, sejam dificuldades cognitivas; pessoas com carências financeiras na área da educação; e ainda na área da saúde apoiam pessoas na prevenção e detecção de doenças oncológicas e psíquicas. O consultor explica que investem nestas áreas porque as sociedades medem-se também por este trabalho. “A maneira como trata as pessoas que têm menos possibilidades, que não partiram de uma base tão boa e tentar dar a mesma oportunidade a toda a gente. É essa a cultura da empresa e envolver o máximo de colaboradores nesta causa”.
José Manquinho assume que esta é uma dificuldade sentida. Para promover a participação a empresa criou dinamizadores dentro de vários sectores com o objectivo de trazer mais pessoas para o voluntariado. O consultor acredita que o voluntariado é mais fácil de fazer em conjunto.
A Missão Continente é a face solidária da marca Continente na área da responsabilidade social, do ambiente às pessoas, passando pela alimentação. O director de operações do Continente dá conta que já existe há 20 anos e que surgiu de necessidades apontadas na altura de apoio pediátrico. Entretanto alargaram a rede de intervenção. “Também é isso que nos caracteriza e que queremos ser referência a nível da responsabilidade social”, assumiu.
José Carlos Salvado deixa claro que a Missão Continente não é para reforço da marca, é apenas para responsabilidade social. Sem qualquer intuito financeiro por detrás. "Isto como diz o Nilton, isto é ligar pontos, e nós o que queremos aqui é ajudar e devolver a sociedade aquilo que a sociedade nos dá”.
O director assume que o ser uma marca de referência ajuda muito neste trabalho solidário. “Quem quer fazer isto de forma altruísta ajuda, porque conseguimos ter ferramentas para ajudar”. E dá como exemplo o desperdício alimentar. Em 2023 devolveram cerca de 30 milhões de euros, foram cerca de 60 milhões de refeições que foram salvas. “Além de ajudarmos as pessoas ajudamos o planeta na nossa pegada ambiental. É win win, para a sociedade, para a empresa, para a comunidade”, afirmou, acrescentando que estão sempre abertos a desafios e a novos projectos.
“Nós, a sociedade privada, não podemos estar à espera que o Estado faça tudo, também temos de ter a nossa quota-parte de responsabilidade”, defendeu José Carlos Salvado.