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Madeira: entre jardim atlântico e a urgência ambiental

A Universidade da Madeira tem potencial para liderar iniciativas sustentáveis

A Madeira, conhecida como “Pérola do Atlântico”, enfrenta desafios críticos na conservação ambiental. O turismo em massa e a falta de políticas eficazes na gestão de visitantes nas áreas naturais têm acelerado a sua degradação. De igual forma, incêndios, desflorestação e novos empreendimentos refletem um desequilíbrio crescente entre o desenvolvimento humano e a conservação dos ecossistemas locais. A apatia de parte da população agrava este cenário, colocando em risco a identidade da ilha e a qualidade de vida dos seus habitantes.

O turismo, embora vital para a economia regional, é também uma das maiores fontes de impacto ambiental. Em contraste com os Açores, que têm adotado um modelo de turismo seletivo, a Madeira segue priorizando iniciativas de massificação. Esta escolha aumenta a produção de resíduos e a pressão sobre recursos naturais. A falta de infraestruturas adequadas agrava o problema, colocando em causa a reputação da ilha como um destino sustentável.

Os espaços verdes desempenham também um papel essencial na saúde mental e no bem-estar da população. Porém, uma má gestão destes leva à dispersão de espécies exóticas, , muitas vezes motivada por interesses económicos, prejudica as espécies nativas e priva os madeirenses de benefícios cruciais. A ausência de políticas públicas robustas reforça a urgência de ações concretas. Ainda assim, estigmas relacionados com a sustentabilidade dificultam avanços. Ideias como “Separar o lixo é inútil” ou “Sustentabilidade é uma moda” perpetuam a apatia e a falta de responsabilidade ambiental.

A resistência à mudança de comportamento tem vindo a ser um dos grandes desafios que, sustentada por estigmas, desvalorizam o ativismo ambiental e generalizam a ideia de que ações individuais são insignificantes. A relativa falta de pensamento e ação pró-ambiental geral reflete uma mentalidade de apatia e desinformação. A sustentabilidade não deve ser vista como um extremismo ou uma moda passageira, mas como um compromisso coletivo essencial para enfrentar as alterações climáticas e preservar o ecossistema.

Noutro âmbito, o consumo desenfreado, incentivado por estratégias de marketing digital e plataformas de comércio rápido, representa outro obstáculo significativo, levando ao aumento da quantidade de resíduos descartados, acarretando enormes gastos de exportação de lixos para a ilha, que não tem capacidade para a processar ou eliminar o seu excesso.

A Universidade da Madeira tem potencial para liderar iniciativas sustentáveis, no âmbito da sua atividade letiva, no desenvolvimento de atividades em benefício da comunidade académica, e de intervenção na região. A ilha já sente os efeitos das alterações climáticas. O aumento da temperatura e eventos meteorológicos extremos mostram a necessidade urgente de estratégias regionais para mitigação e adaptação. Continuar a apostar nas energias renováveis e na gestão responsável dos recursos, torna-se essencial para enfrentar os desafios ambientais e preservar o equilíbrio ecológico da Madeira.

A educação ambiental é a chave para superar esses desafios e algumas iniciativas têm sido implementadas. Porém, urge o envolvimento de todos os setores da sociedade. Temos que alinhar o crescimento económico à preservação ambiental ou arriscar perder o seu maior património — a natureza.