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Pedra ou Prenda no sapatinho?

A Festa acomoda-se lentamente entre nós, com emoções, cheiros e sabores. Este ano, prestes a findar, foi para nós madeirenses, recheado de peripécias que abalaram a política regional e a nossa vida coletiva, que rivaliza com muitas diversões instaladas na Praça do Povo. Sejam as mais radicais, ou, as mais patéticas das artes circenses, com uma maioritária plateia alienada há décadas, pela poncha, ralis e até por aquela temporária fé das missas do parto, que poderá fazer acumular, mais um troféu turístico, com a chancela do episcopado madeirense muito permeável a todo este circo mediático.

Com o acenar de um orçamento bilionário, a Assembleia Legislativa Regional (em tempos denominada por “casa de loucos”), tornou-se mais esquizofrénica que algumas alas dos hospícios psiquiátricos, onde os papéis das oposições se fundem como pequenos satélites da órbita do poder que as absorve, com falsas guerras combinadas como guião de uma trama que dura há quase cinquenta anos. A tão propalada autonomia regional votada recentemente a um novo feriado após o dia das petas, soa cada vez mais, a um epitáfio cravado na sua pedra tumular pelo punho dos seus cangalheiros.

Vem agora o arquiteto-mor desta insana empreitada, esbracejar em vozearia boçal, a se insurgir (novamente) contra o Dr. Albuquerque que ousadamente o procedeu. Mas, as hidras empanturradas que por aí abundam a influenciar decisões sem escrutínio, mantêm-se na engorda por décadas de protecionismos alarves. Escusa, pois, o Dr. Jardim de tentar insultar a nossa memória e alimentar as acendalhas dos fantasmagóricos detratores autonómicos – quais moinhos de vento de Cervantes – contra os quais, nesta metáfora da loucura, era necessário lutar para unir os filhos e enteados da traída Autonomia. Uma luta que não nos permitiu uma digna política de mobilidade; nem um diferencial fiscal efetivo; nem acesso a bens mais baratos, ou, à habitação compaginável com os salários que auferimos. Temos a segunda maior taxa de risco de pobreza do país, e vivemos com crescente estranheza, num massificado parque temático.

Num momento onde parece abundar dinheiro nos cofres da Região, que até dá para transformar em adjuntos, ex-gestores públicos constituídos arguidos e impedidos pela justiça de continuar em funções (que deve revolucionar os preceitos do SIADAP na nossa administração pública), não se conhece um rasgo coerente da oposição regional, que se mantém acomodada, tal é a volatilidade da sua existência e expressão, caso nos orientemos a novas eleições. Talvez por isso, a viabilização do Orçamento Regional, seja o mal menor daquilo que se avizinha, pois, a “Pedra no sapatinho” do bloqueio regional personificado no Dr. Albuquerque mantém-se, com algum respaldo popular, que a síndrome de Estocolmo poderá explicar.

O drama dos madeirenses não é apenas ter uma governação ensopada em suspeições criminais, engalanada com um cortejo de arguidos. O nosso desastre é fundamentalmente a completa aridez das oposições. Algumas historicamente autofágicas. Outras, como meros avatares parasitários do poder. Nesse aspeto a alternância democrática enquanto “Prenda no sapatinho” parece ser tão virtual, quanto os moinhos de D. Quixote no século XVII.

Com esperança, desejo-vos Boas Festas!