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PM francês afirma que dificuldades não vão desaparecer com moção de censura

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Foto EPA/YOAN VALAT

O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, avisou hoje que a "realidade difícil" que França atravessa em termos económicos "não desaparecerá com uma moção de censura", disse à Assembleia Nacional, pouco antes da votação que poderá precipitar a sua demissão.

Se o executivo cair, agrava-se a crise política criada pela dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente Emmanuel Macron, em junho, na sequência da vitória da extrema-direita nas eleições europeias.

No mês seguinte, as eleições legislativas deram origem a uma Assembleia Nacional muito fragmentada e Barnier só tomou posse como primeiro-ministro em 05 de setembro, sucedendo a Gabriel Attal, após 60 dias de impasse.

Com o atual cenário, o país corre o risco de uma crise financeira ligada ao nível de confiança dos mercados na capacidade das autoridades públicas de contrair empréstimos a taxas baixas.

Num tom marcadamente de despedida, em que chegou a despedir-se dos funcionários da Assembleia antes do início da votação, Barnier fez um último apelo à "responsabilidade" e alertou para os perigos para o país caso o seu Governo caia.

"Não me conformo com a ideia de que a desestabilização institucional possa ser o objetivo que une uma maioria de deputados nesta câmara", disse o antigo negociador da União Europeia para o 'Brexit', que deverá cair devido à união dos votos da esquerda e da extrema-direita.

O ainda chefe do Governo negou ter apresentado orçamentos de austeridade, embora tenha reconhecido que gostaria de ter "distribuído mais dinheiro, mas não houve".

Com uma dívida de 3,2 mil milhões de euros, França deverá pagar anualmente 60 mil milhões de euros de amortização da dívida, um valor que poderá aumentar se, como previu, as taxas de juro subirem devido à instabilidade do país.

O primeiro-ministro alertou para um período "mais difícil e mais grave" se a moção de censura for aprovada e salientou que haverá uma perda de poder de compra para os cidadãos pois, sem as medidas orçamentais previstas, terão de pagar mais impostos.

O antigo primeiro-ministro e líder do partido do Presidente, Renascimento, Gabriel Attal, defendeu o atual Governo, afirmando que os deputados "estão a cometer um erro perante a história", ao votar as moções de censura que quase certamente provocarão a queda do executivo.

"A França precisa de estabilidade e o mundo precisa de uma França estável", disse Attal num discurso na Assembleia Nacional durante o debate que antecedeu a votação da moção de censura.

O antecessor de Barnier disse ainda que França está "doente", mas não encontrará o antídoto nem nas receitas da extrema-esquerda, referindo-se ao partido de Jean-Luc Mélenchon, França Insubmissa (LFI), nem na extrema-direita de Marine Le Pen, os dois blocos que apresentaram as moções de censura contra Barnier.

É por isso que, mesmo sendo de partidos diferentes, os deputados da coligação centrista de Attal, Juntos Pela República (Ensemble pour la République, em francês), vão apoiar Michel Barnier, que, apesar de ser conservador, foi nomeado pelo Presidente francês, evitando a sua queda precipitada ,que conduzirá a França para "o desconhecido", afirmou.

"A adoção desta moção de censura só vai criar perdedores", defendeu Attal.

Para o antigo primeiro-ministro, os deputados que votarem a favor da destituição de Michel Barnier, ao fim de apenas três meses de mandato, condenarão a França como se condenavam os gladiadores na Roma antiga, e a crise daí resultante prejudicará sobretudo os mais vulneráveis.

Será também negativo num mundo incerto onde, entre outros desafios internacionais, estão em causa o apoio à Ucrânia face à Rússia ou o futuro do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, ao qual a França se opõe fortemente mas que, segundo Attal, não poderia defender os interesses dos seus agricultores sem estabilidade.