África tem pobreza extrema mais alta do mundo
A taxa de pobreza extrema em África era a mais elevada do mundo, atingindo 38% da população, em 2022, com as desigualdades estruturais e distorções institucionais a impedirem a sua redução, revela um relatório do Banco Mundial.
O relatório "Leveling the Playing Field: Eliminar as Desigualdades Estruturais para Acelerar a Redução da Pobreza em África, explica que as desigualdades estruturais, baseadas em fatores como o local de nascimento, a etnia, o género e a origem parental, bem como as distorções institucionais e do mercado, favorecem uma minoria em detrimento da maioria.
Consequentemente, África é a segunda região mais desigual do mundo, a seguir à América Latina, e "a única onde a redução da pobreza extrema estagnou nos últimos anos", com 38% da população a viver com menos de 2,15 dólares por dia, segundo relatório divulgado na terça-feira.
A pobreza extrema - viver com menos de 2,15 dólares por dia - diminuiu rapidamente a nível mundial, caindo para menos de 10%, mas a taxa de pobreza extrema em África não baixou e pode até aumentar.
Atualmente, 60% da população mundial que vive em situação de pobreza extrema encontra-se na África Subsariana, uma proporção que poderá aumentar para 87% até 2030 se não forem realizadas reformas significativas, alerta o Banco Mundial.
O relatório sugere que as estratégias de redução da pobreza devem centrar-se no alargamento das oportunidades e aponta exemplos.
Um deles a Etiopia, no início da década de 2000, que alargou os direitos de utilização das terras, ajudando a promover o investimento na agricultura, outro o Quénia, onde produtos financeiros de fácil comercialização, como o dinheiro móvel, aumentaram a inclusão financeira e a resistência das famílias aos choques.
O terceiro exemplo dado foi o Gana, os investimentos no ensino primário aumentaram as taxas de conclusão da escolaridade, enquanto a liberalização parcial do mercado do cacau, combinada com investimentos em investigação, controlo de doenças e programas de crédito, aumentou os rendimentos agrícolas.
"As desigualdades estruturais não têm nada de inevitável. Como demonstram as histórias de sucesso de alguns países, é possível eliminar os obstáculos às oportunidades através de políticas bem concebidas que permitam a todos desenvolver as suas capacidades produtivas e aceder ao emprego e aos mercados", sublinha Nistha Sinha, coautora do relatório.
A região de África em geral tem tido dificuldade em transformar o crescimento económico em redução da pobreza, em grande parte devido à elevada desigualdade.
Em particular, o relatório sublinha que muitas pessoas nascem em circunstâncias que limitam seriamente as suas oportunidades futuras.
Por exemplo, as crianças dos 20% da população mais pobre têm menos probabilidades de terminar a escola a tempo e, em média, apenas 32% dos agregados familiares pobres têm acesso à eletricidade, em comparação com quase 70% dos agregados familiares não pobres.
Estas diferenças são agravadas por distorções institucionais e de mercado que impedem as pessoas de atingirem o seu potencial produtivo, perpetuando ciclos de pobreza, com os jovens pobres a serem forçados a empregos pouco remunerados e inseguros no setor informal.
Os autores do estudo consideram que ao combater as desigualdades estruturais, a África Subsariana tem potencial não só para promover um crescimento inclusivo, mas também para reduzir a pobreza e criar novas oportunidades para milhões de pessoas.