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Crónicas

Entrar novo no ano

Com esta lista, é provável que não mudemos o mundo, mas mudamos, seguramente, a nossa vida e a do mundo à nossa volta

Nunca fui dada a repetir anos. Cheguei a fazê-lo por motivos que acreditava serem maiores. Ainda assim, há quatro anos, jurei a mim mesma que não voltaria a cair nesse erro. É que, por vezes, insistimos em repetir anos, quando escolhemos, por exemplo, ignorar o “elefante” na sala (ignorar o que aconteceu), quando atiramos para ‘debaixo do tapete’ as dores e escondemos ‘numa gaveta’ as aprendizagens, quando viramos a página rápido demais… Sempre que fazemos isto, o ano novo, de novo só tem o(s) dígito(s). Na verdade, ele tende a ser igual ao ano anterior. Só porque nós continuamos iguais. Continuamos a pensar, a sentir e a fazer exatamente da mesma forma. E assim, nada se transforma, nada muda.

É por crer nisto que procuro fazer sempre uma despedida digna do ano que termina. Costumo fazê-la a 29 de Março, porque faço anos a 30 e é nessa data que celebro o verdadeiro ano novo. Ainda assim, entre 26 e 31 de Dezembro, mergulho numa retrospecção honesta, sem filtros, do ano cronológico que termina. A intenção é honrar o passado para acolher o futuro de braços abertos, desde um lugar de mais conhecimento, mais flexibilidade emocional, mental, muita curiosidade, esperança e amor.

E não tenho paciência para o cliché “ano novo, vida nova”. A sério! Essa história de que há novos sonhos, novos desejos e projectos, que todos temos que ter uma imensa lista com objectivos, cheira-me sempre a esturro, a fogo de artifício, daquele que só brilha por fora. Uma espécie de maquilhagem à qual o universo é absolutamente alheio.

Ora, se precisamos de algo externo para nos sentirmos novos, então, parece-me que falhámos (redondamente) nas aprendizagens ao longo dos últimos anos. Ou seja, andámos a repetir anos. Em vez de vivermos alinhamos, escolhemos viver alienados.

Como seria se em vez de querermos alcançar objetivos, quiséssemos, intencionalmente, alcançar-nos? Sim, a nós próprios?

Como? Para irmos para um nível mais elevado da nossa vida, proponho que desenvolvamos virtudes humanistas. Que é como quem diz, que ativemos os nossos recursos internos. Mesmo os mais adormecidos ou que ainda nem sabemos que nos habitam.

Por exemplo, a autenticidade, a humildade, a coragem, a curiosidade, a flexibilidade, a compaixão, a empatia, a generosidade. A vulnerabilidade, também, mas com a condição (sim, esta virtude traz a condição) de só a revelarmos a quem merece (fica para outra crónica Essencial).

Ao ativarmos os nossos recursos internos, afastamo-nos de uma vida fugaz, efémera e vazia. De uma vida de faz de conta. De uma vida de querer agradar ao outro, mesmo que isso custe a nossa integridade. Ativar recursos internos, aproxima-nos da nossa autoestima, é uma forma de a nutrirmos e de a expandirmos. Em bom português, é a forma de investirmos na nossa responsabilidade pessoal. Não é o que nos acontece, é o que fazemos com o que acontece para nós.

É que entrar no ano novo, todos entramos. Já entrar novos no ano, são contas de outro Rosário.

Partilho uma breve lista de propósitos ao nível das intenções, dos desejos e dos objetivos que pode ser inspiradora para praticar em 2025:

  • nutrir relações saudáveis, com significado;
  • estar e ser presente;
  • mais curiosidade, menos julgamento;
  • escutar mais;
  • diminuir as expectativas;
  • focar no que podemos controlar;
  • deixar ir o que não podemos controlar;
  • viver mais no aqui e agora;
  • falar menos, observar mais;
  • praticar mais igual valor e dignidade;
  • perguntar mais vezes: “e se fosse comigo?”
  • desenhar limites pessoais;
  • destralhar (a casa - interior e exterior);
  • ler mais livros;
  • caminhar na natureza;
  • reduzir o tempo passado nas redes sociais e on-line;
  • fazer voluntariado;
  • escrever intenções em várias áreas;
  • dançar;
  • simplificar;
  • visitar um lugar novo;
  • experiências gastronómicas;
  • experiências multiculturais;
  • telefonar, escrever uma carta manuscrita… a alguém especial
  • estudar um novo idioma, tema… 
  • aprender a respirar (ajuda a ganhar novo fôlego);
  • deitar-se mais cedo;
  • ingerir menos açúcar;
  • beber mais água;
  • praticar regularmente exercício físico;
  • sorrir mais;

agradecer mais.