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Legado de Jimmy Carter na paz e segurança mundiais realçados

Foto EPA/ERIK S. LESSER
Foto EPA/ERIK S. LESSER

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar "profundamente triste" com a morte, no domingo, do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter (1977-81), de quem destacou o legado na paz e segurança mundiais.

Numa declaração emitida na tarde de domingo em Nova Iorque, Guterres sublinhou os "marcos" de Carter na diplomacia dos Estados Unidos, como os acordos de Camp David ou os relativos ao Canal do Panamá, mas também o seu desempenho enquanto mediador de conflitos, após a sua presidência, em matérias como o controlo eleitoral em países em transição, a promoção da democracia e a erradicação de doenças.

Estes esforços, reconhecidos com a atribuição a Carter do Prémio Nobel da Paz em 2022, "contribuíram para fazer avançar as Nações Unidas", sublinhou Guterres, cujo organismo que lidera atravessa um momento de fragilidade particular.

Carter será recordado pela solidariedade para com os mais fracos e "pela sua fé infatigável no bem comum e na nossa humanidade partilhada", o que permitirá que o seu legado como "campeão dos direitos humanos" continue vivo.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, recordou o legado na defesa dos direitos e dignidade humana de Jimmy Carter.

"O Presidente Jimmy Carter colocou os direitos humanos, a dignidade humana e a paz no centro da sua vida política", escreveu Costa na sua conta na rede social X (ex-Twitter).

O seu legado, acrescentou o ex-primeiro-ministro português, "é uma inspiração".

Também a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, recordou Carter como o "incansável defensor da paz e dos direitos humanos", sendo o Nobel da Paz "o testemunho do seu papel decisivo na resolução de conflitos que mudaram o curso da história".

"O seu legado perdurará, sendo uma inspiração para muitos em todo o mundo", escreveu na sua conta na rede social X, concluindo que "a Europa está de luto".

Homenagem global

Os ex-presidentes democratas Bill Clinton e Barack Obama e o republicano George W. Bush também já manifestaram condolências pela morte de Carter.

"O Presidente Carter ensinou-nos a todos o que significa viver uma vida de graça, dignidade, justiça e serviço", declarou este domingo o ex-presidente Barack Obama (2009-2017) nas redes sociais.

"Michelle e eu enviamos os nossos pensamentos e orações à família Carter e a todos os que amaram e aprenderam com este homem extraordinário", escreveu Obama na rede social X.

Por seu lado, o antigo presidente Bill Clinton (1993-2001) e a mulher e ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, destacaram a longa carreira política e humanitária do antigo líder democrata.

"Hillary e eu lamentamos o falecimento do Presidente Jimmy Carter e damos graças pela sua longa e boa vida", afirmou o antigo presidente num comunicado, divulgado nas redes sociais.

"Guiado pela sua fé, o Presidente Carter viveu para servir os outros até ao fim", acrescenta o texto.

"Estarei sempre orgulhoso de o ter agraciado com a Medalha da Liberdade, a ele e a Rosalynn [Carter, esposa], em 1999, e de ter trabalhado com ele nos anos que se seguiram à sua saída da Casa Branca", sublinhou ainda Bill Clinton.

"O presidente Carter dignificou o seu cargo. E os seus esforços para deixar um mundo melhor não terminaram com a sua presidência. O seu trabalho com a Habitat for Humanity e o Centro Carter constituíram um exemplo de serviço que inspirará os americanos nas gerações vindouras", afirmou o antigo presidente George W. Bush (2001-2009).

Na Europa, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sublinhou o apoio de Jimmy Carter a Kiev, na luta da Ucrânia "pela liberdade".

"O seu coração esteve firmemente ao nosso lado na nossa luta pela liberdade (...). Apreciamos o seu compromisso inabalável com a fé cristã e os valores democráticos, bem como o seu apoio inabalável à Ucrânia face à agressão injustificada da Rússia", escreveu Zelensky na X.

“Salvou inúmeras vidas" graças à sua ação para eliminar doenças, recordou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Tedros Adhanom Ghebreyesus disse que ficou "profundamente triste" ao saber da morte de Jimmy Carter, e que "o seu trabalho no Carter Center salvou inúmeras vidas e aproximou muitas doenças tropicais negligenciadas da eliminação".

"Um verdadeiro líder que inspirou tantas pessoas", escreveu Tedros numa mensagem na rede social X, exaltando o "compromisso inabalável" de Carter "com o bem-estar das pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo", que ficará "para sempre na memória".

O diretor-geral da OMS recordou ainda que a liderança do Presidente Carter "foi fundamental para facilitar as negociações de paz no Médio Oriente décadas atrás", e, frisou, "lembra do que o nosso mundo mais precisa hoje".

Este papel de Carter também foi recordado pelo Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, na sua reação à morte do estadista, elogiando o "papel importante" para a paz entre Egito e Israel de Jimmy Carter, arquiteto dos Acordos de Camp David de 1978, um prelúdio do primeiro tratado entre Israel e um país árabe.

"O seu importante papel na realização do acordo de paz entre Egito e Israel permanecerá gravado nos anais da história e o seu trabalho humanitário incorpora um alto princípio de amor, paz e fraternidade", disse o Presidente egípcio.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, lamentou hoje a morte do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, lembrado por "conquistas históricas" no trabalho pela "diplomacia da paz".

"O Presidente Jimmy Carter alcançou feitos históricos através dos seus esforços incansáveis, não só durante a sua presidência, mas ao longo de toda a sua vida, na diplomacia da paz, pela qual lhe foi atribuído o Prémio Nobel da Paz", começou por sublinhar Ishiba, num comunicado emitido pelo seu gabinete.

"Destaco o meu profundo respeito pelo Presidente Carter, que contribuiu significativamente para o reforço das relações amigáveis entre o Japão e os Estados Unidos e para a manutenção da paz e da estabilidade na comunidade internacional", acrescentou.

Israelitas e palestinos de acordo

O Presidente israelita, Isaac Herzog, agradeceu hoje a Jimmy Carter pelo apoio à normalização das relações entre Egito e Israel nos anos 1970, numa mensagem após a morte do antigo presidente norte-americano.

"Nos últimos anos, tive o prazer de lhe telefonar e de lhe agradecer os seus esforços históricos para reunir dois grandes líderes, Beguin e Sadat", escreveu Herzog nas redes sociais, referindo-se a Menachem Beguin e Anwar el-Sadat, líderes israelita e egípcio, respetivamente, que assinaram os acordos de Camp David com Carter em 1978.

Os acordos permitiram aos dois países assinarem, em Washington, o acordo de paz de 1979, que normalizou as relações entre ambos.

Na mensagem, Herzog defendeu a paz entre Israel e o Egito como "uma âncora de estabilidade em todo o Médio Oriente e norte de África".

"O seu legado será definido pelo seu profundo empenho na paz entre as nações", disse o Presidente israelita sobre Carter, enviando ainda condolências à família do ex-dirigente e ao povo norte-americano.

O embaixador da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) no Reino Unido - e antigo embaixador nos EUA - Husam Zomlot, também celebrou o legado de Carter nas redes sociais, embora por motivos diferentes.

"O Presidente Carter será recordado pelo povo palestiniano como o primeiro presidente dos EUA a lutar pela liberdade dos palestinianos e o primeiro a alertar para o apartheid israelita", afirmou Zomlot na rede social X.

O antigo presidente publicou em 2006 um livro baseado nas conversas com Beguin e Sadat sobre o conflito israelo-palestiniano, intitulado "Palestina: Paz, Sim. Apartheid, Não" ('Palestine: Peace Not Apartheid'), no qual critica o estabelecimento de colonatos israelitas, classificando-o como um dos principais obstáculos à paz no Médio Oriente.

Funeral de Estado

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou no domingo que honrará a memória de Carter com um funeral de Estado em Washington antes de 20 de janeiro, data em que entregará a chave da Casa Branca ao sucessor, Donald Trump.

"A minha equipa está a trabalhar com a sua família e outros para garantir que ele seja devidamente recordado", anunciou Biden, em declarações a partir das Ilhas Virgens.

A morte do antigo presidente dos Estados Unidos este domingo, aos 100 anos, foi anunciada pelo seu filho primogénito, James E. "Chip" Carter III, através de um comunicado divulgado pelo Carter Center.

O ex-Presidente dos Estados Unidos será homenageado em cerimónias públicas em Washington e na Georgia, o seu estado de origem, informou a organização.

A organização humanitária não-governamental fundada por Carter não deu pormenores sobre as datas destas homenagens ao antigo chefe de Estado norte-americano democrata, eleito em 1976 e vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2002.

Segundo a organização, Jimmy Carter será enterrado em Plains, no estado da Georgia, onde morreu rodeado pela sua família.

No domingo, o atual Presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou que deu instruções para que se realize um funeral de Estado para Carter em Washington.

Os preparativos finais para um funeral de Estado, incluindo todos os eventos públicos e percursos da comitiva, ainda estão pendentes, referiu o Carter Center.

Eleito para a Casa Branca em 1976, vencendo o então Presidente Gerald Ford por uma margem de votos tangencial e num país ainda marcado pelo escândalo "Watergate" que forçou o Presidente Richard Nixon a demitir-se, Carter assumiu o cargo de 39.º Presidente dos Estados Unidos apenas durante quatro anos.

O político democrata, que votou nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, realizadas em 05 de novembro, tinha sido submetido a tratamentos para tentar travar uma forma agressiva de melanoma, com tumores que se espalharam ao fígado e ao cérebro.

Retirado de toda a vida pública, Jimmy Carter beneficiava de cuidados paliativos na sua casa em Plains, estado da Georgia, desde fevereiro de 2023.

A sua última aparição pública aconteceu em novembro de 2023, durante o funeral da sua mulher, Rosalynn.

Carter, um homem que falava frequentemente da sua fé cristã, era o mais velho Presidente norte-americano ainda vivo.

"O meu pai foi um herói, não só para mim, mas para todos os que acreditam na paz, nos direitos humanos e no amor altruísta", disse Chip Carter, filho do antigo Presidente, no comunicado divulgado pela organização Carter Center.