Novo líder sírio pede a Trump fim das sanções e mostra-se aberto a Moscovo
O novo líder da Síria, Ahmad al-Charaa, apelou ontem à administração do futuro Presidente norte-americano, Donald Trump, para levantar as sanções impostas a Damasco e também mostrou interesse em reconstruir relações com a Rússia, aliada do antigo regime.
"As sanções foram impostas à Síria por causa dos crimes cometidos pelo regime" deposto de Bashar al-Assad, disse o antigo líder rebelde, anteriormente conhecido pelo seu nome militar, Abu Mohamed al-Jolani, em entrevista hoje divulgada ao canal saudita al-Arabiya.
Para o líder do grupo Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), que fez parte de uma coligação de grupos rebeldes que depôs Assad, "as sanções devem ser levantadas automaticamente", na medida em que considerou que foram as vítimas do regime que o derrubaram em 08 de dezembro.
"Esperamos da nova administração americana (...) que as sanções sejam levantadas sem necessidade de entrar em negociações", prosseguiu o novo líder de facto sírio.
Na entrevista, Ahmad al-Charaa elogiou igualmente os "profundos interesses estratégicos" entre a Síria e a Rússia, manifestando o seu desejo de reconstruir a relação com um dos principais aliados do Presidente deposto, que no dia 08 de dezembro fugiu para Moscovo.
"A Rússia é um país importante (...). Existem interesses estratégicos profundos entre a Rússia e a Síria", disse o novo líder sírio, justificando que "todas as armas sírias são de origem russa", tal como muitos sistemas de centrais elétricas são geridos por especialistas russos.
"Não queremos que a Rússia deixe a Síria da forma que alguns gostariam", declarou.
Do mesmo modo, al-Charaa afirmou que a Síria não pode prescindir das relações com o Irão, outro forte aliado do antigo líder sírio, alertando que estas devem basear-se no respeito mútuo pela soberania dos dois países.
"A Síria não pode continuar sem relações com um grande país com peso regional como o Irão, mas estas devem ser feitas com base no respeito pela soberania dos dois países e sem interferência nos assuntos internos", declarou.
O antigo comandante rebelde reiterou também que as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos e apoiadas pelos Estados Unidos, deveriam ser integradas no futuro exército sírio.
"As armas devem estar exclusivamente nas mãos do Estado. Quem estiver armado e tiver capacidade para ingressar no Ministério da Defesa será bem-vindo", sublinhou, sinalizando que é "nestas condições e nestes critérios" que se devem iniciar negociações, "na esperança de se encontrar uma solução adequada".
Num excerto da entrevista já anteriormente divulgado pela al-Arabiya, Ahmad al-Charaa afirmou que o processo de preparação e elaboração de uma nova Constituição síria pode demorar cerca de três anos e organizar eleições quatro.
"A Síria precisa de um ano para que os cidadãos experimentem mudanças radicais nos serviços", disse al-Charaa em excertos escritos da entrevista à emissora estatal saudita, acrescentando que todo o procedimento para criar uma nova Constituição pode demorar cerca de três anos e a realização de um processo eleitoral pode levar quatro.
"Qualquer eleição adequada exigirá um censo populacional completo", o que leva tempo, observou o antigo líder rebelde.
Com a deposição de Bashar al-Assad em 08 de dezembro, o novo Governo sírio estabelecido prevê manter-se em funções até 01 de março de 2025, embora até ao momento não tenha anunciado qualquer calendário eleitoral ou ações detalhadas relativas à organização política assim que terminar este mandato de transição.
A Síria é um país devastado por uma sangrenta guerra civil desde 2011 e onde cerca de 90% da população vivem abaixo da linha de pobreza.
No início de dezembro, uma operação relâmpago de uma coligação de grupos armados rebeldes assumiu o controlo do país e levou à fuga do Presidente Bashar al-Assad para a Rússia, colocando fim a um regime de mais de cinco décadas e que remontava ao período do seu pai, Hafez, desde 1971.
Os rebeldes foram liderados pela HTS e por al-Jolani, que têm na sua base ligações à Al-Qaida e ao Estado Islâmico.
No entanto, desde a sua caminhada vitoriosa para Damasco, o novo líder de facto da Síria tem procurado afastar-se do passado de radicalismo islâmico e usar um discurso inclusivo e tranquilizador tanto dentro do país como para o exterior.