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Presos ao Passado: uma perspetiva de Futuro para a Madeira

Já se passaram 48 anos desde que o I Governo Regional da Madeira assumiu o poder, sempre sob a liderança do mesmo partido, pese embora sem maioria absoluta desde 2019. Esse cenário reflete bem a teoria “tentacular” que costuma ser usada para descrever as Regiões Ultraperiféricas: pequenos territórios insulares, com pouca população, onde o poder se concentra em poucos e se perpetua. A longevidade das lideranças na Madeira não é apenas uma coincidência — ela é um dos reflexos mais claros desse fenómeno.

Essa realidade também moldou a mentalidade de muita gente. Ao longo das décadas, muitos madeirenses, cresceram e vivem, acostumados a pensar que “quem governa decide e o resto obedece”. Essa postura, no entanto, acabou enfraquecendo valores importantes, como a reflexão, o espírito crítico e a cidadania participativa. Paralelamente, intensificou-se um modelo de participação partidária mais voltado para interesses individuais, muitas vezes resumido na máxima conhecida: “vai para o Governo e tens a vida feita”.

Em contraponto, aqueles que buscam uma vida digna, sem dependência ou favores, acabam saindo da Região. Deixam para trás a sua terra e a sua família em busca de oportunidades que não encontram em “casa”. É aqui que a frase de Oséias Goulart encaixa perfeitamente: “os políticos são o retrato da sociedade e os governantes o reflexo de quem os elege”, ou seja, a qualidade dos nossos líderes reflete diretamente a tolerância da sociedade a respostas simples para problemas estruturais.

É impossível ignorar a onda de populismo que parece assombrar a política na Região, de uma forma tão intensa, que nada contribui nem dignifica o Parlamento madeirense. Esta tendência está tão enraizada que ultrapassa ideologias de direita ou esquerda, sendo um traço transversal na política regional. Socialmente falando, apelidam-se de “partidos populistas” a esquerda ou a direita radical, mas em termos científicos o “populismo” é transversal a qualquer político ou partido, sendo que o que os diferencia da expressão popular “populista” é a intensidade com que radicaliza o seu discurso ou com que grau de intensidade gera a narrativa em ir ao encontro das suas vontades.

Com as eleições regionais marcadas para 2025, a Madeira enfrenta um momento crucial. Vai continuar nesse ciclo de instabilidade ou finalmente iniciar um caminho de renovação política? Quem acredita que a mudança depende apenas do PSD Madeira está se iludindo. Esse discurso só fortalece uma ideia de imobilismo, quando na verdade vivemos num contexto de autêntica volatilidade eleitoral. Como a Revolução dos Cravos não aconteceu com Marcelo Caetano e a Autonomia não foi alcançada pela Revolução de Abril, a revolução política na Madeira também não se faz com o mesmo partido de sempre ou, até mesmo, por rostos diferentes com espíritos idênticos.

A situação atual da Região — social, política e economicamente — é desafiadora. Existe desmotivação, descrença e uma falta de coesão social que limitam qualquer progresso real. E pior: a falta de competência, proximidade e dignidade de muitos representantes políticos só agrava essa sensação de um “fundo negro”. A oposição, especialmente o Partido Socialista, precisa de voltar a posicionar-se como um partido forte, mobilizado e coligado com a sociedade civil, de modo a incutir ânimo e esperança de um futuro melhor. Afinal, entre 2018 e 2019, houve um momento de renovada confiança, quando a ideia de um horizonte mais promissor conseguiu unir pessoas de várias sensibilidades e segmentos sociais.

Hoje, a Madeira parece perdida, com líderes políticos que tratam de problemas complexos de forma simplista e perigosa. Mas nem tudo é negativo: o acesso crescente à informação criou uma sociedade mais consciente e informada, ainda que a classe política pareça alheia a isso. Estamos numa Nova Era, onde os cidadãos querem líderes competentes, rigorosos e capazes de trazer valor acrescentado no exercício das suas funções.

O que a Madeira realmente precisa é de um projeto coletivo que busque os seus melhores talentos, incluindo aqueles que tiveram de partir para encontrar melhores oportunidades fora. A mudança exige medidas urgentes. Não é aceitável que a Madeira continue sendo uma das regiões com maiores desigualdades sociais da Europa e, que simultaneamente, se glorifique com sucessivos prémios de Melhor Destino Insular do Mundo. Incrível, não acha? É essencial qualificar, formar e empregar a nossa gente, com empregos dignos e valorizando os saberes de cada um. Precisamos de um combate à crise habitacional com coragem e reformar a administração pública com as novas gerações mais bem preparadas. Temos que ter vontade política para criar as condições para que os nossos cidadãos qualificados fiquem ou voltem à Madeira e contribuam para o seu crescimento.

Por fim, fica uma reflexão: seja na sociedade ou na vida, quando estamos sem rumo, não podemos idealizar o nosso futuro. A Madeira, sem dúvida, tem um futuro à sua frente, mas só será possível de se idealizar se começarmos agora a desenhar o presente que queremos construir.