As 50 Bananeiras do Governo Regional: Um Fruto da Democracia Madeirense

Chegou àquela altura do ano em que todos nos sentimos cronistas a debitar reflexões sobre o que passou, como se os outros aguardassem ansiosamente pela nossa opinião. Claro, é sempre um exercício arriscado, porque a memória curta é uma especialidade nacional. Damos primazia ao que aconteceu ontem e ignoramos alegremente os factos relevantes de Janeiro. Mas há eventos que, por mais recentes que sejam, não dão para ignorar como a tão badalada moção de censura ao governo regional.

Se a moção foi um choque (e nem foi assim tão grande, convenhamos), o que dizer do ainda governo? A resposta chegou sem dececionar: um espetáculo à altura das expectativas, ou melhor, das baixas expectativas que se tinham. Afinal, o talento para transformar crise em tragicomédia continua a ser um grande atributo de certa gente.

Soubemos recentemente nestas páginas do Diário de Notícias que o Exmo. Presidente do Governo Regional, Dr. Miguel Albuquerque, num rasgo de génio digno dos melhores tempos da monarquia, decidiu deixar a sua marca através de um verdadeiro festival de nomeações – 50 em apenas algumas semanas. O objetivo? Parece claro, dirá o povo, ou pelo menos o JPP: garantir que, aconteça o que acontecer nas próximas eleições, os seus leais seguidores estejam bem instalados. Afinal, a Madeira sempre foi fértil em bananas pequenas e gostosas, mas estas 50 nomeações superam qualquer plantação. É caso para dizer que nem o Mercado dos Lavradores viu tamanha colheita.

Os tempos mudaram. Houve uma época em que como o meu pai dizia, bastava colocar uma bananeira como candidato do PSD-M para garantir uma vitória esmagadora. Esse mérito, justo seja dito, era muito à custa do Dr. Alberto João Jardim, que transformou a Madeira num símbolo de desenvolvimento e muitas (demasiadas?) excentricidades. Com ele, a autonomia regional pelo menos ganhou alma e discurso, e os madeirenses, ainda que críticos, entregavam o voto como quem diz “estamos bem, continua assim tio Alberto”.

Hoje, porém, a realidade política é menos doce. Não que o povo tenha perdido o gosto pelas bananas, mas parece que se fartou de nomes sem substância e das manobras para perpetuar um poder que já não convence. As sondagens não mentem: a maioria absoluta é uma miragem, e o PSD-M terá de enfrentar um eleitorado cada vez mais crítico, ou pelo menos agarrado às caixas de comentários do Facebook, onde cada gaffe, cada nomeação absurda e cada promessa vazia se transforma num meme em tempo real ou mais recentemente num cartaz do PS-M.

O que dizem estas 50 nomeações sobre o governo de Albuquerque? Que a confiança na vitória é tão robusta quanto um ramo de bananeira seco. Em vez de procurar reconquistar os eleitores com ideias ou projetos concretos, optou-se por garantir cargos, uma espécie de seguro político para os tempos difíceis que se adivinham. É a política da sobrevivência madeirense, se o barco afundar, que pelo menos alguns se metam nos botes disponíveis.

Mas o povo, mais “esperto” ou simplesmente mais cansado, já não quer escolher qualquer um. Não é que a oposição ofereça grandes alternativas – a cada crítica certeira segue-se uma proposta absurda, como se estivessem todos empenhados em provar que a incompetência é uma virtude transversal aos políticos madeirenses. O que está em jogo, portanto, não é apenas a liderança do governo regional, mas a própria legitimidade da classe política madeirense, que já não consegue convencer nem com bananas nem com “brindes” eleitorais. E desta vez, receio que nem um concerto do Quim Barreiros ou do Tony Carreira vá alegrar a malta.

As eleições estão aí, e o desfecho é incerto. Certo, apenas, é que os madeirenses terão de escolher entre o mau e o péssimo. Resta saber se, desta vez, alguém terá a coragem de derrubar as bananeiras ou se continuaremos a assistir ao mesmo teatro político, onde as nomeações e as alianças valem mais do que o bem-estar de quem vive na pérola do Atlântico.

Se o Dr. Alberto João ainda estivesse no ativo, pelo menos haveria uma boa gargalhada no meio de tudo isto, provavelmente seguida de um discurso inflamado a mandar toda a oposição ir plantar batatas ou bananeiras. Já agora, Dr. Miguel Albuquerque, se a estratégia é imitar o mestre da política madeirense, falta-lhe o carisma, o teatro e, acima de tudo, a eficácia porque até as bananas do AJJ eram mais credíveis.

T.S.