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Patriarca de Lisboa lamenta que tudo o que envolve forças de segurança se transforme em facto político

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O Patriarca de Lisboa. Rui Valério, lamentou hoje que, nos últimos tempos, tudo aquilo que envolve as forças de segurança e, concretamente, a PSP, imediatamente se transforma em facto quase político, com leitura política.

Rui Valério, que falava à agência Lusa e à RTP no final da missa de Natal, que decorreu hoje na Sé de Lisboa, sublinhou, contudo, que, independentemente das circunstâncias que a capital portuguesa está a viver no presente, "nunca deixa de ser uma cidade acolhedora, uma cidade de esperança".

"Todas as forças vivas que a compõem, que a constituem, estão verdadeiramente empenhadas e até comprometidas com o bem comum e, sobretudo, com a promoção da dignidade de cada ser humano", acrescentou.

O Patriarca de Lisboa disse saber que a polícia, na sua atuação, "nunca faz nada arbitrariamente, nem porque sim, nem porque lhe apetece". 

"Nós sabemos que a nossa PSP tem uma das mais prestigiadas escolas, que é o ISPSI, o Instituto Superior de Ciências Policiais de Segurança Interna, que tem um reconhecimento internacional pela sua competência científica. Tudo aquilo que é a atuação concreta no terreno das nossas forças de segurança é nesse laboratório científico delineado, planeado. [...] Posso garantir que tem uma dimensão ética muito profunda", salientou. 

"Nessa dimensão ética há aí um princípio que é basilar. [...] Nunca a polícia usa meios que sejam desproporcionais com os fins a que se propõem. Nós somos uma sociedade que só com mãos dadas, cooperando, construindo pontos, incitando e experimentando e ensaiando entendimentos, é que, como sociedade portuguesa, continuaremos o rumo da história, que é a história de Portugal", sustentou.

Sobre os vários conflitos que atualmente assolam um pouco por todo o mundo, o Patriarca de Lisboa lembrou as recentes palavras do Papa Francisco que, juntamente com muitos líderes mundiais de diferentes confissões religiosas, tem incitado e tem promovido: "a religião é um fator de paz". 

"A dimensão religiosa é aquela que aproxima as pessoas de Deus, da transcendência, mas, ao mesmo tempo, aproxima as pessoas umas das outras, torna-as próximas, sensíveis. É por isso que o meu augúrio para o próximo ano é que, iluminados por este clima e por esta força transbordante de esperança, o mundo verdadeiramente seja aquele mundo que nós todos sonhamos e que Jesus nos vem mostrar que é possível", argumentou. 

Questionado pela Lusa sobre o facto de se assistir ultimamente a um aumento do populismo em todo o mundo, sabendo-se, historicamente, que tal leva a extremismos, Rui Valério considerou-o "um atropelo à dignidade".

"O populismo é sempre o aproveitamento do ser humano ou de algum aspeto do ser humano, um aproveitamento para fins que não são propriamente daquela da promoção da dignidade da própria pessoa. E por isso é um atropelo à dignidade", respondeu.

"O populismo atropela sempre o ser humano na sua dignidade, na sua configuração como pessoa. Quando o populismo em si já é isso, a partir daí as coisas só podem piorar. Os extremismos, o radicalismo, a intolerância, a incompreensão, pois bem, é tudo uma consequência desse primeiro passo quando se instrumentaliza o ser humano ou uma condição do ser humano, a sua necessidade, a sua fome, a sua carência", acrescentou.

A partir daí, questionou, qual é o primeiro passo para as grandes catástrofes humanitárias? 

"É quando nós deixamos de olhar para o outro como um fim. E eu receio que o populismo viva um pouco desta cartilha. E quando os motivos são religiosos é também condenável", defendeu.

"Todo aquele caminho que conduz à guerra, à violência, à exploração, ao atropelo do ser humano, são caminhos que nós temos primeiro que condenar, denunciar e depois que corrigir. Não podemos aceitar que a religião, em algum caso, em alguma circunstância, seja um meio para alcançar, enfim, desígnios ou metas menos nobres para a sociedade", respondeu.

Rui Valério admitiu que o aproveitamento do fator religioso para esses fins deturpados "é uma constante da história, o extremismo". 

"Mas é uma constante da história, desde a antiguidade. Creio que hoje cabe um pouco aos responsáveis, aquilo que vulgarmente se conhece por líderes religiosos, salvaguardar esta integridade da dimensão religiosa do ser humano, da sua dimensão espiritual, que é verdadeiramente fulcral para a vida da pessoa e para a vida de uma sociedade", concluiu.