Cultura e arte contra a violência nas escolas
Dia 20 de dezembro, cinco dias atrás, Croácia: um rapaz perturbado de 19 anos entra na sua antiga escola primária e mata uma menina de 7 anos, ferindo outros 3 e desferindo 31 facadas a uma professora (que, por milagre, sobreviveu).
Dia 21 de dezembro de 2023, Chéquia: um estudante mata 14 colegas da universidade.
Dia 3 de maio 2023, Sérvia: um aluno mata a tiro 8 colegas e o guarda da sua escola primária.
Estados Unidos: até agora, apenas neste ano que agora termina, foram registados 83 tiroteios em massa nas escolas, daí resultando 38 mortos e 115 feridos. De 2009 a 2018, foram registados neste país 288 tiroteios nas escolas.
Quantos mais se seguem?
Os estados membros da UNESCO declararam a primeira quinta-feira de novembro como o Dia Internacional contra a Violência e Bullying nas escolas, reconhecendo que a violência nas escolas, em todas as suas formas, representa uma violação dos direitos das crianças e adolescentes à educação, saúde e bem-estar.
Num contexto mais lato, as Nações Unidas instituíram há quatro anos atrás o dia 9 de setembro como o Dia Internacional para Proteger a Educação de Ataques, referindo-se aqui sobretudo às zonas onde as guerras e regimes impedem ou proíbem o acesso livre à educação.
No dia 9 de setembro deste ano, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que “os anos recentes viram um aumento dramático de ataques contra os alunos, professores, pessoal de educação e escolas em mundo inteiro”. Exortou também os países para investirem na educação e não pouparem esforço para salvaguardar a educação e as escolas, protegerem alunos e professores, e responsabilizarem os agressores. Solicitou a todos os países que implementassem a Declaração de Escolas Seguras de 2015, neste momento adotada por 120 países (mas não por Estados Unidos). Esta declaração afirma, entre outros objetivos, que cada aluno tem o direito a uma educação sem medo de violência ou ataque, cada professor e administrador deve poder ensinar e pesquisar em condições de segurança e dignidade, e cada escola deve ser um espaço protegido.
Como é que o mundo em geral pode envidar o esforço para cumprir estas metas? Um dos caminhos mais importantes será através da cultura e das artes. Ainda em 2004 o Conselho Europeu emitiu uma recomendação (n.º 1687 de 2004) sobre a luta contra o terrorismo através da cultura, cujas sugestões são eminentemente aplicáveis também às situações da violência nas escolas, substituindo simplesmente o termo “terrorista” por “agente de violência”. Essa recomendação indica que é necessário utilizar uma abordagem multifacetada que combina métodos culturais, políticos, económicos, legais e sociais. A cultura em todos os seus aspetos – as artes, o património, a religião, os média, a ciência, a educação e o desporto – pode desempenhar um papel importante na prevenção do desenvolvimento duma atitude que se predispõe à violência. A importância da cultura nesse contexto é frequentemente subestimada. A recomendação também alerta que toda e qualquer sociedade, mediante certas condições, pode produzir terroristas.
Um exemplo concreto é a ação promovida em 2022 pela Antiga Capital Real de Montenegro, Cetinje, com o apoio da UNICEF. Para promover a importância da educação artística das crianças, enquanto uma ferramenta poderosa para apoiá-las na aquisição dos valores e competências na resolução de conflitos sem violência, todas as escolas de música desse país foram anfitriãs dos concertos de verão pela Orquestra Sinfónica Infantil de Montenegro, abrangendo 100 escolas primárias e secundárias e 20 mil alunos. O trabalho de preparação da Orquestra foi uma oportunidade de aprendizagem de colaboração e resolução de desentendimentos e conflitos duma maneira construtiva e apoio mútuo, a fim de alcançar o objetivo comum.
Internacionalmente, numa das iniciativas numerosas, artistas tais como Billie Eilish, Peter Gabriel e Sheryl Crow juntaram-se a uma coalição chamada “Artists for Action to Prevent Gun Violence”, visando incentivar pessoas para voluntariado, donativos e votação contra a violência armada.
O que há de melhor para desejar neste dia de Natal, a todas as crianças e aos seus pais de todo o mundo, do que simplesmente que tudo o que está no papel passe para a realidade, a fim de permitir uma infância feliz, segura, inspiradora e semeadora dum futuro prometedor? Feliz Natal!