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A Guerra Mundo

Intensificação de ataques russos gera temor de ofensiva contra Kherson e Zaporijia

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As autoridades ucranianas admitem uma ofensiva russa contra as regiões ucranianas de Kherson e Zaporijia (sul), alvo de uma intensificação de bombardeamentos russos nas últimas semanas e a manobras no terreno.

Vladislav Voloshin, porta-voz do grupo Sul das forças armadas ucranianas, disse hoje à Rádio Svoboda que as forças russas estão a tentar estabelecer um ponto de apoio na margem ocidental, sob controle ucraniano, do rio Dniepre, que tem servido como linha de frente.

De acordo com Voloshin, neste momento a atividade russa ainda não equivale a um ataque em grande escala através do Dniepre.

No entanto, todos os dias pequenos grupos de infantaria russos lançam entre cinco e sete assaltos contra os ilhéus do rio, e na semana passada foi repelida uma tentativa de Moscovo de tomar posições perto da cidade de Kherson.

Fontes do comando militar ucraniano afirmaram na segunda-feira à rede RBK-Ucrânia que a Rússia poderia usar até 4.000 efetivos para tentar estabelecer um ponto de apoio do outro lado do rio em Kherson.

Também poderia lançar ataques perto de Piatijatki, na vizinha região de Zaporijia, na tentativa de se aproximar da capital regional, a 40 quilómetros de distância, e intensificar os seus bombardeamentos de artilharia.

Capturar mais territórios nessas regiões reforçaria a posição russa em possíveis negociações e fortaleceria a sua exigência de obter o controlo dessas províncias em toda a sua extensão.

Ambas estão agora sob ocupação parcial e com as suas capitais nas mãos ucranianas.

"Os planos do inimigo são conhecidos, as Forças de Defesa estão prontas para tudo e alguns russos já estão a alimentar com sucesso os caranguejos no Dniepre", declarou o chefe do Centro Governamental de Combate à Desinformação, Andri Kovalenko, no Telegram.

"O plano de [Vladimir] Putin de aumentar a aposta não funcionará", assegurou no Telegram, em alusão ao Presidente russo.

Kherson foi libertada há mais de dois anos pelas forças ucranianas, e tem sido recentemente alvo de violentos ataques, num dos quais os russos usaram cerca de mil projéteis de artilharia, segundo as autoridades locais.

Têm ainda sido usadas bombas aéreas guiadas contra a cidade, causando danos no seu hospital oncológico, enquanto os 'drones' russos continuam a visar transeuntes de forma aleatória.

A Rússia não dispõe de forças suficientes na zona, mas aspira a convencer o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que é melhor negociar do que tentar derrotá-los, argumentou por sua vez o analista militar Oleksandr Kovalenko em análise para o grupo Resistência Informativa, citado pela EFE.

Em Moscovo, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, afirmou hoje que quase 440.000 pessoas alistaram-se por contrato no Exército russo este ano para combater na guerra na Ucrânia, abaixo das 500 mil de 2023.

Vladimir Putin tem resistido a nova mobilização de reservistas, após a anunciada em setembro de 2022, que provocou o êxodo para o exterior de centenas de milhares de russos.

A assinatura de contratos por voluntários havia diminuído dramaticamente na primeira metade do ano, mas aumentou após a invasão ucraniana em agosto na região de Kursk, o que levou Putin a ser obrigado a aumentar para 1,5 milhões o número de soldados no exército.

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território, e a rejeitar negociar enquanto as forças ucranianas controlem a região russa de Kursk, parcialmente ocupada em agosto.