Novo Governo francês tomou hoje posse sob ameaça de moção de censura
Os ministros do novo Governo francês tomaram posse hoje, mas o Partido Socialista não afasta a possibilidade de o censurar já, alegando a sua demasiada "dependência" da extrema-direita.
O centrista François Bayrou, de 73 anos, é o quarto primeiro-ministro a ser empossado ao longo do ano que agora termina, depois de o seu antecessor ter durado apenas três meses - uma instabilidade que não se via em França há décadas.
"Nenhuma das condições do pacto de não censura foi respeitada" na composição do novo Governo, reagiu hoje o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, que esclareceu que a sua bancada parlamentar deverá aprovar uma moção de censura assim que a declaração de política geral do primeiro-ministro seja conhecida, em 14 de janeiro.
Os dois ex-primeiros-ministros deste Governo - Elisabeth Borne, nomeada para a Educação, e Manuel Valls, para os Territórios Ultramarinos - estão a ser particularmente escrutinados, tal como outro membro reutilizado, Gérald Darmanin, que ocupará a pasta da Justiça.
Borne, que deixou o cargo de primeira-ministra no início do ano, disse estar consciente dos riscos deste novo Governo, mas mostrou-se confiante em conseguir "travar o aumento da incivilidade, dos insultos e até da violência", bem como os "ataques ao secularismo nas escolas".
O novo ministro da Economia, Eric Lombard, antigo diretor de uma instituição financeira pública, já apelou ao "tratamento do mal endémico francês, o défice".
Este será o primeiro desafio da equipa de Bayrou: aprovar um orçamento para 2025 na Assembleia Nacional, onde deputados da esquerda e da extrema-direita derrubaram o seu antecessor Michel Barnier a 04 de dezembro.
Bayrou disse estar sensível ao "sinal de alerta" sem precedentes lançado a uma só voz na semana passada pelas três organizações patronais e quatro dos cinco sindicatos representativos sobre os riscos económicos e sociais acentuados pela instabilidade política.
François Bayrou acredita que a presença de "pesos pesados" da política francesa na sua equipa o protege de não ter aberto o seu Governo mais à esquerda.
O novo chefe de Governo sabe que, após a sua declaração de política geral, será confrontado com uma moção de censura, como pretende o partido de esquerda radical França Insubmissa.
O partido de extrema-direita União Nacional (RN), a mais numerosa bancada parlamentar, anunciou que não tenciona aprovar uma moção de censura.
O rumor, desmentido por Bayrou, é de que, por detrás deste compromisso do RN existiu uma troca telefónica entre o primeiro-ministro e a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, nos últimos ajustes na composição do Governo.
Ainda na segunda-feira, Bayrou negou qualquer influência da extrema-direita na composição do seu governo, após as acusações de Xavier Bertrand, esperado para integrar a Justiça, mas que afirmou ter sido afastado por pressão de Marine Le Pen.
"Em primeiro lugar, não é verdade que tenha sido exercida qualquer influência sobre mim", frisou o governante francês ao canal BFMTV.
"Xavier Bertrand propôs uma abordagem que considerei violenta no Ministério da Justiça, uma abordagem que não era minha porque o Ministério da Justiça é um ministério de pacificação e de justiça", acrescentou Bayrou.
Perante este rumor, o líder do Partido Socialista condenou na segunda-feira o que disse ser "um Governo de extrema-direita", sob a forma de "provocação".
Le Pen, por seu lado, garantiu hoje que os franceses seriam levados "em breve, muito em breve, na pior das hipóteses, dentro de alguns meses" a escolher "um novo caminho".
Na mesma linha, o presidente do seu partido, Jordan Bardella, não teve meias palavras contra a composição do Governo.
"Felizmente, o ridículo não mata (...) porque François Bayrou reuniu a coligação do fracasso", comentou Bardella.
Quanto ao partido de direita conservadora, Os Republicanos (LR), que se mantém no Governo, Laurent Wauquiez falou num apoio "muito exigente" a François Bayrou que poderá ser "retirado" consoante o rumo traçado.
A equipa governamental tem 35 membros, menos do que a de Michel Barnier (42), com quase paridade (18 mulheres, 17 homens).
O primeiro conselho de ministros está marcado para 03 de janeiro.