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Perceções e sensações

Para muita surpresa minha, cada vez mais ouvimos falar em sensação de insegurança, ao ponto de ser tema recorrente em reportagens, questões a políticos e comentários do público em geral.

Chegamos ao ponto de um número crescente de pessoas concentrarem-se em exigir medidas que aumentem a perceção de segurança pública, ao invés de concentrar esforços em aumentar a segurança pública. Mesmo as instituições que se concentram em combater crime real, têm, regularmente, que gastar tempo de antena a responder a questões sobre a perceção de segurança.

Se o número de crimes aumenta, é um problema. Se o número de crimes diminui, mas a perceção de insegurança aumenta, não há problema. Ou, pelo menos, não é um problema para ser abordado pela via de políticas públicas.

Todos já ouvimos a história do oráculo de Delfos e estranhamos que o destino de uma sociedade seja definido pela sugestão de um sacerdote, mas, nos tempos modernos, não estranhamos que as nossas políticas de policiamento e imigração sejam afetadas por receios e sensações de indivíduos.

Qualquer estudo baseado em factos indica que os imigrantes são contribuintes positivos para a Segurança Social, contribuem mais do que obtém em subsídios e que aumentos de imigração não estão relacionados com aumentos de criminalidade. No entanto, as histórias são mais empolgantes do que a realidade, levando a que seja raro existir discussão sobre a imigração sem estar associada à perceção de segurança.

Tudo isto é relevante porque quem quer combater sensações não combate com políticas reais e duradouras. Combate com políticas e ações performativas que dão manchetes e que têm como único efeito duradouro uma quebra ainda maior de confiança entre as partes.

Discutir a perceção de segurança pública, em vez dos factos referentes a participações de crimes, só é relevante se for verdade que existiu uma quebra na disponibilidade das pessoas de recorrerem à polícia face aos anos anteriores. Existe alguma razão para pensar que as pessoas estão menos disponíveis para recorrer à polícia hoje quando comparado com a realidade há 20 anos?

Não creio que haja.

As instituições públicas usam fundos públicos para implementar medidas bem informadas que gerem mais valias sociais. Para que as medidas bem-intencionadas tenham resultados duradouros, têm de ser baseadas em factos, dados e no mundo real. Nunca no mundo percecionado pelo indivíduo A, B ou C.

O estudo “Perceções comparativas da corrupção em Espanha e Portugal”, indica que cerca de dois terços dos portugueses sentem que a classe política é corrupta. Este tema também merece ser analisado com base em dados e não nas perceções pelos mesmos motivos. Não é pela perceção das pessoas que devemos crucificar e diabolizar toda uma classe de pessoas, na sua maioria, dedicadas e com sentido de compromisso com o bem comum.

A todos, deixo-vos votos de um Natal bom, saudável e seguro e de umas excelentes entradas em 2025 – um ano que esperemos caminhar na direção do racional e não do emocional.