Manuel António quer evitar Governo de gestão de "pelo menos um ano e meio"
Eterno adversário de Miguel Albuquerque aproveitou conferência de imprensa para endereçar um pedido muito concreto a Marcelo Rebelo de Sousa: atrasar a data das eleições por mais um mês e meio além do prazo previsto para "regenerar" o PSD e tirar Madeira do "pântano político"
Mais de 500 militantes do PSD-Madeira subscrevem intenção de avançar para um congresso extraordinário electivo. Manuel António Correia diz que o actual líder perdeu a confiança dos eleitores e garante que só admite candidatura à presidência do Governo Regional em nome do partido
A porta da sede do PSD-Madeira, na Rua dos Netos, estava fechada "há cerca de duas semanas", mas voltou a abrir para receber e guardar as capas que juntavam as 540 assinaturas recolhidas por Manuel António Correia junto de militantes social-democratas que exigem novas eleições no partido por via da realização de um congresso extraordinário electivo.
“Entregámos cerca de 540 assinaturas e muitas mais podiam ser entregues porque vêm a caminho (…) isto é um ato de um sentimento colectivo dos militantes e da Região que não se revê neste PSD e tem medo do caminho para onde este PSD leva a Madeira”, começou por indicar Manuel António Correia.
Madeira que, segundo o ex-governante, “tem vivido num pântano político” e que “agora parece” querer “seguir para um precipício”. Trajecto que assume querer “evitar” e, como tal, solicita a realização deste congresso de onde poderá sair a escolha de uma nova liderança para o PSD e, acima de tudo, “um novo candidato” do partido “às eleições regionais” sob pena de vivermos durante o próximo ano e meio... condicionados.
"Andamos de gestão em gestão. E daqui para frente a perspectiva é exactamente a mesma, ou pior, porque o parlamento durante seis meses após a instalação não pode ser dissolvido. O Sr. Presidente da República nos últimos seis meses de mandato não pode dissolver e o próximo presidente da República durante os primeiros seis meses não pode dissolver. Tudo junto dá um ano e meio, pelo menos, de governo de gestão. É isto que os madeirenses querem? Nós temos de sair disto. Vamos continuar nisto em nome de quem? Eu garanto que se eu estivesse no lugar do Dr. Miguel Albuquerque já me teria demitido há muito", atirou.
Albuquerque garante que as assinaturas de Manuel António serão recebidas na sede do PSD
Chefe do Executivo recusa tentativas de vitimização
Tudo junto vai levar a Madeira para um governo de gestão durante esse tempo e o que nós pensamos que o Sr. Presidente da República deve fazer é acrescentar cerca de um mês e meio ao período normal para estas situações, a exemplo do que já fez a nível nacional aquando da saída do Dr. António Costa, e com esse mês e meio a mais nós conseguirmos dar estabilidade à Madeira durante anos. Trocamos um mês e meio de demora - eu diria de investimento - para recuperarmos a estabilidade de condições de vida e progresso na Madeira durante anos, porque se não for feita esta transformação a Madeira vai viver estagnada. Manuel António Correia
“Entendemos que se não houver mudança a Madeira continuará sem estabilidade governativa, porque o Dr. Miguel Albuquerque não consegue maioria, os partidos que podiam ajudar a estabilizar a governação já disseram que com ele não e ainda temos o parlamento que não pode ser dissolvido durante cerca de um ano e meio”, alertou.
Acusado de ser traidor por Miguel Albuquerque, o militante social-democrata respondeu praticamente na mesma moeda ao dizer que não tem “nenhum interesse individual” em se candidatar à liderança do PSD-Madeira. Assume que é o seu “dever de consciência”, ao contrário do seu adversário.
"Os madeirenses e porto-santenses já perceberam que o Dr. Miguel Albuquerque, de há muito, deixou de pensar na Madeira. E, se calhar, está a pensar na Madeira e no PSD para satisfazer as suas ambições. Quando a ambição dele devia ser servir a Madeira, ao contrário do que está a acontecer", atirou.
O que eu peço é que se dê voz aos militantes, que se dê aos militantes a possibilidade de escolher, o direito de escolher. Eu não tenho medo de eleições, há quem venda a ideia de que não tem medo de eleições, mas foge de eleições internas. Eu confio nos militantes e se o processo for democrático e transparente, respeitarei na íntegra a vontade dos militantes. E, portanto, eu quero dar voz aos militantes, quero que os militantes decidam o nosso futuro, respeitarei essa vontade e acredito que essa nova legitimação, poderemos unir o partido. É impossível haver união sem haver legitimidade forte do líder. E que o líder, ao contrário do que foi feito antes, nomeadamente em Março, una de facto, não se lembre de união apenas quando precisa dela. E em Março não era preciso? E se tivéssemos feito a união em Março não estaríamos mais fortes? Manuel António Correia
O antigo secretário regional disse ainda ser "falso" que se diga que Miguel Albuquerque "está na mesma circunstância do que em Março", aquando das últimas eleições internas no PSD-Madeira.
"Hoje está muito pior perante a população. As pessoas dirigem-se continuamente a pedir mudança e a dizer que já não confiam. Infelizmente, para todos nós, porque esta é uma questão institucional, os militantes já não se revêem, nem confiam no Dr. Miguel Albuquerque. Os madeirenses em geral, e porto-santenses, já não se revêem, nem confiam no Dr. Miguel Albuquerque. Aliás, basta ver as sondagens que dão uma percentagem claramente superior à da pessoa em causa. E, portanto, porquê é que havemos de estar a criar uma dificuldade ao partido que apenas beneficia uma pessoa? O PSD foi conhecido e é conhecido ainda, por ter esse património, por ser um instrumento ao serviço da Região. Neste momento é um instrumento ao serviço de uma pessoa que não quer abdicar dele para as suas ambições pessoais", sublinhou.
E Manuel António Correia admite avançar com uma candidatura com outro partido, caso seja possível? "Quero ser muito claro sobre isso. Qual era o sentido de estar aqui hoje com 500 e muitas assinaturas para regenerar o PSD, ao mesmo tempo que admitiria qualquer outra solução? Quero ser muito claro, desmentir que essa seja uma hipótese, o nosso projeto e foco é regenerar o PSD para pô-lo ao serviço da Madeira, como infelizmente neste momento não está."