Descida das taxas e subida do rendimento real não chegam para aliviar dificuldades das famílias
O BCE começou a descer as taxas de juro, a inflação caiu para valores mais próximos dos 2% e o rendimento real aumentou, mas as famílias continuam a ter dificuldade em responder à subida do custo de vida.
Em dezembro, e pela quarta vez este ano, o Banco Central Europeu (BCE) cortou as suas taxas diretoras, num movimento com impacto direto no comportamento das Euribor e, consequentemente, na prestação do crédito à habitação paga por milhares de famílias.
Um movimento que pôs travão ao agravamento das taxas de juro que o banco central iniciou em julho de 2022 em resposta à forte subida da inflação que então se registava.
Apesar de a inflação estar mais contida, de o peso das prestações do crédito à habitação ter começado a diminuir e de dados recentemente divulgados mostrarem que o rendimento real 'per capita' (por pessoa) das famílias portuguesas foi o que mais aumentou entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) - ao subir 2,1% no segundo trimestre em termos homólogos - muitas pessoas continuam a ter dificuldades em fazer face a todas as despesas.
E são muitas as que recorrem ao apoio do Gabinete de Proteção Financeira da Deco, que notou um "aumento significativo" de pedidos de ajuda ao longo deste ano, com a maioria a chegarem de pessoas que trabalham, mas cujo rendimento não chega para pagar a casa (prestação ou renda, a conta do supermercado e dos serviços essenciais).
O relatório sobre o emprego na União Europeia, divulgado esta semana pela Comissão Europeia, veio, por seu lado, mostrar que a eficácia da Segurança Social em Portugal na atenuação da pobreza e das desigualdades de rendimento se deteriorou, revelando que em 2023 o impacto das transferências sociais - com exceção das pensões - na redução da pobreza diminuiu 3,9 pontos percentuais, situando-se em 19,8% contra 34,7% na União Europeia.
O mesmo documento mostra que as desigualdades também se deterioraram em 2023, enquanto a percentagem de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social permaneceu estável em nesse ano.
A taxa de emprego em Portugal melhorou de 77,1% em 2022 para 78,0% em 2023, período em que a taxa de desemprego aumentou ligeiramente (0,3 pontos percentuais) para 6,5%.