O meu amigo secreto
Para quem anseia ser grande, anda à procura de mediatização e protagonismo, vive na ambição de querer ser o maior ignorando a simplicidade e pondo de lado o mais importante, a humildade, este é um texto sobre a inveja inútil, destrutiva, miserável, asquerosa, aquela que nos faz querer rebaixar quem está onde nós gostaríamos de estar, aquela que nos faz querer atacar quem tem o que nós gostaríamos de ter, aquela que nos faz celebrar o que corre mal a quem tem o talento que nós gostaríamos de ter, a que nos faz vibrar com as derrotas dos nossos adversários, os fracassos dos nossos opositores e as calamidades dos nossos inimigos. Essa é a inveja que por todo o lado, nos comentários, conversas, nas redes sociais, nas ruas, à socapa ou em público, mais temos visto nos últimos tempos sobre aqueles que muito à custa do seu empenho, trabalho, dedicação e esforço conseguem ser grandes. Uma inveja dos pequeninos, que só os pequeninos insignificantes sentem — e que os diminuí ainda mais, que os deixa carcomidos, minúsculos, meros parasitas. Porque acho que se apenas trocarmos o comportamento por atitude, se interpretarmos inveja trocando-a por motivação, poderemos encontrar a fórmula de em todo conseguirmos mudar o mundo e aqueles que à nossa volta acham-se superiores a nós.
Eu prefiro a outra inveja, a boa, a útil, a «inveja» dos grandes. A que me faz olhar para quem fez o que eu gostaria de ter feito, para quem conseguiu o que eu gostaria de ter conseguido, a que me motive ser cada vez melhor para poder atingir esse patamar (invejado) e tentar eu mesmo fazer o que alguém um dia gostará de ter feito, e tentar eu mesmo conseguir algo que alguém um dia gostará de ter conseguido. A inveja que me faz acreditar mais em mim, que me faz pensar que se ele conseguiu eu também posso conseguir com o meu empenho, trabalho, esforço, dedicação e honestidade. A inveja que me faz aplaudir quem invejo, admirar quem invejo, inspirar-me em quem invejo, aprender com quem invejo: crescer com quem invejo. Porque, desenganem-se, não é a inveja que é uma coisa feia; é o que fazemos com ela.
A. J. Ferreira