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Vidas enKravadas

Diante do papel vazio, analisando a situação política da RAM, uma constatação óbvia: tanto sobre que discorrer, mas nada para dizer. Na verdade, a vida das pessoas anda muito longe dali. Aquelas guerras podem ser muito importantes para quem as trava, mas não para o cidadão comum que tem de se agarrar à realidade, certo de que não será prioridade para quem nunca foi, ainda que lhe digam o contrário. A verborreia de quem se revela inapto para tribuno ouve-a, cada vez mais, à distância, quase prestes a não passar de ruído de fundo.

Não são necessárias eleições, mas soluções! É preciso desencravar a vida das pessoas comuns, que todos os dias se defrontam com problemas que, há muito, deveriam estar resolvidos.

Quanto aos professores, por exemplo, não se percebe por que ainda não se devolveu, para efeitos de progressão na carreira, os três anos que lhes foram sonegados por terem vinculado antes de 2011. Não estamos a falar de um favorzinho; trata-se da reposição de um direito, reparação de um dano causado por quem governava. Mas há muito mais: por que razão os docentes com vínculos precários ficam indefinidamente empatados? Os que não têm habilitação profissional recebem menos por trabalharem na RAM? Os que exercem nas escolas privadas não recebem o subsídio de insularidade, para além de terem contratos piores do que os colegas do público? Os que trabalharam no continente ou nos Açores nos períodos de congelamento não têm esse tempo contabilizado para progressão?

Repito, não são favorzinhos que os governantes possam semear para granjear dividendos políticos; são direitos. Uma agravante, estamos a falar de trocos e não dos milhões que ouvimos e lemos circularem em livre-trânsito em circuitos fechados.

Vidas duras; vidas encravadas, as dos professores e de tantos, tantos cidadãos comuns. Porém, poucas tão encravadas que a grafia comum não expressa a sua dimensão. Vidas enKravadas por uma letra que se sobrepõe à razão e à boa-fé. Refiro-me à situação profissional de 7 professores do Conservatório da Madeira, internamente referenciados como da categoria K, que têm as suas vidas profissionais empatadas desde 2011, sim há cerca de 24 anos, numa altura em que o salário mínimo nacional era de 285 €; em 2025, na RAM, será mais de 900 €. É pouco, sem dúvida, mas, pelo menos, tem crescido, o que se saúda. Um dia, engolirá o salário destes professores, parados no tempo e com as vidas enkravadas.

2025 tem de ser o ano do desenKravamento da vida profissional destes 7 professores, custe o que custar, nem que tenhamos de acrescentar uma nova letra ao abecedário, sem desprimor pela letra K, uma estrangeirada na nossa língua.