Um beco com saída
A Madeira está num beco, mas tem saída. Quem não tem saída é quem levou os madeirenses e porto-santenses para o beco. A instabilidade não começou agora. E não começou com a moção de censura que deu entrada na Assembleia Regional, embora tenha como protagonistas o PSD e o CHEGA. Começou quando Miguel Albuquerque, já arguido e para agarrar-se a todo o custo ao poder, aceitou aliar-se a um partido de extrema-direita, deitando para o lixo os princípios da social-democracia. E nesse sentido, deu garantias ao Senhor Representante da República de estabilidade política. Miguel Castro, como oportunista, e seguindo os preceitos do seu partido a nível nacional, querendo acabar com o sistema mas sendo o pior que o sistema tem, deu a mão a Albuquerque num destino que estava traçado: largar a mão quando fosse mais conveniente para provocar o caos. Porque é do caos que esse partido se alimenta.
Mas outros partidos alinharam e validaram o governo do PSD. Em julho deste ano, o CDS, o PAN, o CHEGA e a Iniciativa Liberal, viabilizaram este Governo e deram um voto de confiança a Miguel Albuquerque, fazendo acordos com o PSD e integrando propostas suas no Programa de Governo, pelo que agora lhes compete a aprovação do Orçamento.
Esses partidos que deram a sua confiança a Miguel Albuquerque e viabilizaram este Governo queriam agora fugir com o rabo à seringa, porque queriam fugir às suas responsabilidades. Daí a sua irritabilidade com o PS, quando os quer confrontar com o debate do Orçamento da Região.
Reafirmo que a responsabilidade de aprovação deste Orçamento não é do PS. É do PSD, dono deste orçamento, e dos partidos que viabilizaram o Programa de Governo, que acordaram com Miguel Albuquerque a integração de propostas suas e que, agora, têm de ser consequentes e aprovar o Orçamento para 2025. Porque é no Orçamento que se concretiza o Programa de Governo.
A instabilidade, tenho a certeza, é indesejada pela maioria dos madeirenses. E a haver eleições, quem tem andado a brincar com as pessoas e a pensar só em si ou no seu partido, deve ser penalizado. Sendo certo que temos tido demasiadas eleições em tão curto espaço de tempo, também é certo que neste quadro parlamentar, não me parece que seja possível a construção de uma solução governativa que assegure estabilidade. Assim, não sendo o ideal, o melhor é mesmo devolver a palavra ao povo que tem o poder de melhor decidir.
Não sendo um valor em si, a estabilidade política é importante para a confiança dos cidadãos, para a previsibilidade que os empresários e investidores necessitam e para o desenvolvimento sustentado que a Região almeja. Nada disto Miguel Albuquerque conseguiu. Com o PSD já vimos que não será possível. Insistir no PSD é fazer com que a instabilidade se normalize. Os madeirenses não quererão, o PS não deixará que isso aconteça.
Estamos disponíveis para construir uma solução de governação estável, assim desejem os madeirenses e porto-santenses, assim queiram outros partidos políticos juntar-se ao PS. As pessoas não desejam partidos que não saiam do protesto. Querem partidos que criem esperança. Não pode haver esperança se quisermos apenas derrubar o PSD. Temos de ser capazes de ter a maturidade política, de não olhar apenas para o nosso umbigo, mas para os olhos das pessoas que tanto precisam de nós para dar uma volta às suas vidas.
Qualquer dirigente político com responsabilidade perceberá que serão necessários acordos se não quisermos que o PSD continue a governar por mais 50 anos, ou que a instabilidade salte do PSD para os partidos agora na oposição. As pessoas já não confiam em Miguel Albuquerque e esperam de nós, líderes de partidos na oposição, que nos entendamos para poderem depositar em nós o futuro.