Terá o Governo Regional adquirido a Berardo a colecção de obras de arte por 1,2 milhões de euros?
O tema forte da edição do DIÁRIO, desta segunda-feira, revelou que a Região adquiriu um conjunto de obras de arte pelo valor de 1,2 milhões de euros.
A síntese dessa notícia, incluída na divulgação da primeira página, feita no dnoticias.pt, suscitou vários comentários, quase todos em discordância com a opção do Governo Regional, havendo um deles que insinua ter a compra sido para beneficiar Joe Berardo. Aliás, outras duas pessoas, em contacto directo com o DIÁRIO, afirmaram o mesmo.
Mas, terá a aquisição sido a Berardo ou a alguma entidade por si controlada?
Durante a semana finda, foi tornada pública a criação de uma nova associação na Madeira: ATM - Associação de Turismo do Monte.
Na apresentação, foi possível ver aquele que deverá ser o dirigente, Pedro Calado, na companhia de Joe Berardo. Aliás, o próprio Pedro Calado disse ser indicado pelo sócio Monte Palace, que ainda é controlado por Joe Berardo.
Por outro lado, o empresário madeirense tornou-se conhecido, entre outras razões, por possuir uma vasta colecção de arte contemporânea.
A par de tudo isto, fica-se a saber que a Região adquiriu uma colecção de arte, composta por 86 peças, da ‘Colecção Maria Eugénia e Francisco Garcia’, destinada a enriquecer o acervo do MUDAS.
Mas haverá alguma ligação entre os dois factos?
A aquisição das obras foi realizada pela Secretaria Regional do Turismo aos herdeiros dos coleccionadores. O contrato de aquisição, publicado na base oficial da contratação pública – base.gov – revela que assinaram o contrato Eduardo Jesus, em representação da Região, e os vendedores João Pedro da Silva Garcia, Francisco Miguel Prazeres da Silva Garcia e José Frederico Prazeres da Silva Garcia.
O contrato foi assinado a 27 de Setembro de 2024, com o preço contratual de 1.208.521 euros, que ficou sujeito a visto prévio do Tribunal de Contas, por ultrapassar o valor de 950 mil euros.
A nossa pesquisa, na verificação da veracidade sobre a alegação de que a compra foi para beneficiar Joe Berardo, passou pela procura de eventuais ligações entre os herdeiros e o colecionador de arte madeirense. Essa pesquisa foi baseada em informação de acesso livre, disponível na Internet.
Não encontrámos qualquer ligação entre as duas partes. Aliás, a atenção ao nascimento da colecção, à sua consolidação e ao facto de ser adquirida em bloco pela Região corrobora a não ligação.
‘Colecção Maria Eugénia e Francisco Garcia’ esteve exposta pela primeira vez ao público entre Novembro de 2021 e Dezembro de 2022, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, localizado do Chiado, em Lisboa. Mais recentemente veio para o MUDAS.
Num trabalho do jornal Público, a propósito da exposição no MUDAS, é explicado: “Francisco Garcia era um advogado respeitado, Maria Eugénia uma enfermeira e professora de liceu. Juntos foram comprando essencialmente pintura, desenho, serigrafia e gravura para o apartamento que partilhavam com os três filhos na Avenida António Augusto de Aguiar, em Lisboa. Fizeram-no entre 1957 e 1974, condicionando as suas escolhas à disponibilidade financeira, ao gosto pessoal e ao núcleo de amigos composto por artistas, críticos e historiadores de arte que foram reunindo e em que mereciam destaque José-Augusto França, António Pedro, Fernando Lemos, Marcelino Vespeira e Fernando Azevedo.”
“As paredes da casa de família, onde os jantares se prolongavam pela noite dentro, foram ficando pouco a pouco cobertas de pintura, da sala ao quarto dos miúdos, três rapazes, que ainda hoje se lembram bem das obras que os viam dormir.”
"‘Os nossos pais nunca pensaram nestas obras como um investimento, compraram-nas para as ter em família. Se as levaram para casa foi porque gostaram delas, porque tinham sido feitas por amigos, a quem as compravam às vezes mesmo antes de elas existirem’, diz João Pedro Garcia, o mais velho dos três irmãos, enquanto passeia pela exposição que o Mudas. Museu de Arte Contemporânea da Madeira, na Calheta, dedica à que agora é conhecida como a Colecção Maria Eugénia & Francisco Garcia.”
Em conclusão, cabe referir que não encontrámos qualquer ligação entre a ‘Colecção Maria Eugénia e Francisco Garcia’ e o universo Berardo, à excepção de estar em causa, nos dois casos, arte contemporânea. Mas isso não faz com que a aquisição realizada pela Região tenha sido para satisfazer os interesses de Joe Berardo.
Assim, avaliamos como falsos os comentários que afirmam ou insinuam que a compra pela Região da ‘Colecção Maria Eugénia e Francisco Garcia’ foi para ir ao encontro dos interesses de Joe Berardo.