Literacias
O mais recente relatório da OCDE sobre literacia entre a população adulta coloca Portugal num lugar não propriamente edificante.
A notícia foi recebida com críticas e algum espanto, traduzindo, em muitos casos, a costumeira tendência para o fatalismo e a desgraça.
Factos são factos e não queria, com esta introdução, menosprezar a validade do relatório, nem a identificação das fragilidades do País em assunto assaz importante. Desejo apenas fazer sobressair que o estudo incidiu sobre grupos etários entre os 15 e os 65 anos; e que, nesse intervalo, há uma diferença significativa nos níveis de literacia linguística e numérica, e de capacidade de resolução de problemas, entre o grupo de 25 a 34 anos e o grupo de 55 a 65 anos. O primeiro destes grupos manifesta, naturalmente, índices de literacia superiores ao segundo, o que se compreende perfeitamente. Portugal teve uma experiência passada, em que os níveis de literacia em causa não foram uma prioridade e muito menos um desígnio nacional para ser aplicado a todas as gerações. Devemos, por isso, usar este exemplo para precaver futuras avaliações negativas.
No caso concreto da Região devemos persistir na adaptação às novas realidades de evolução da sociedade. A matriz tecnológica que caracteriza o nosso tempo tem de ser aproveitada para otimizar as nossas capacidades, sem esquecer que essa matriz integra o sistema sociocultural, sem o qual não é possível construir uma sociedade sustentável e equilibrada nas suas variadas competências.
Devemos fazer acentuar, nesse contexto, o aperfeiçoamento das referidas literacias e de tantas outras, em áreas como, por exemplo, a cultura, a cidadania, a política, a ciência, a saúde, o ambiente e a transição digital.
A Universidade da Madeira, através da sua capacidade de investigação, ensino e serviço à sociedade, é um instrumento essencial para continuar a participar neste processo de mudança. Refira-se que, em todas as áreas nas quais desenvolve a missão que lhe compete, tem sido evidente a sua contribuição para implementar projetos e mudar mentalidades.
O valor que esta capacidade acrescenta ao sistema não dispensa a aposta da Região em investigação e desenvolvimento (I&D), no contexto de uma política mais ampla de desenvolvimento, com implicações óbvias nos índices de literacia. Trata-se de um processo absolutamente crucial. É necessário que, dos atuais 0,5% do PIB da RAM, se passe a pelo menos 1%, a curto prazo, para que a Madeira se aproxime da média nacional, que é de 1,7%.
Neste período tão significativo de tradições que marcam indelevelmente a nossa cultura, desejo a todos um excelente Natal e um Ano Novo repleto de realizações e sucessos.