É normal a areia do Porto Santo desaparecer no Inverno e voltar no Verão?
O facto de a praia do Porto Santo estar coberta de pedras tem deixado muitos visitantes e residentes desiludidos. Tal como o DIÁRIO deu conta na edição impressa de hoje, o areal da ‘ilha dourada’ deu lugar a muito calhau, ‘roubando’ a beleza desta praia neste início de Inverno.
A notícia já conta com mais de 150 comentários, alguns deles que mostram preocupação com o sucedido. Mas há quem diga que isto é um fenómeno que acontece todos os anos no Inverno, mas no Verão a areia volta. Será mesmo assim?
João Baptista, investigador da Universidade de Aveiro, explica que “o sistema hidrodinâmico da praia do Porto Santo é um sistema extremamente forte e com mudanças bruscas em função das condições meteorológicas adversas”.
Os estudos técnicos e científicos feitos nas últimas três décadas e meia no sector nascente da praia, compreendido entre a zona do Penedo e a Foz da Ribeira do Tanque, numa extensão aproximada de dois quilómetros, mostram que no período de Outono/Inverno a praia entra numa fase de “emagrecimento”, ou seja, fica com menos areia.
O engenheiro geólogo adianta ainda que quanto mais adversas as condições meteorológicas e os ventos predominantes do quadrante Sul, Sudoeste e Sudeste, maior a remoção de areia.
“Essa remoção pode ser feita no espaço de horas. Durante uma noite, por exemplo, podemos ter menos dois ou três metros de espessura de areia na praia”, explicou, dando conta que, depois, no período entre a Primavera Verão, “dá-se a engorda da praia”, ou seja, “há maior quantidade de areia sobre o lajedo, sobre a base da praia. Se houver ventos do quadrante Norte com rumo Noroeste e Nordeste o aporte de areia é muito maior”.
Esclareceu ainda que a monitorização que está a ser desenvolvida pela equipa de investigação da Universidade de Aveiro no sector nascente compreendido entre o contra molhe do Porto de Abrigo (praia do Penedo) até à Foz da Ribeira do Tanque, tem demonstrado que nos últimos 30 anos este sector de praia “apresenta uma tendência para um risco de erosão elevado a muito elevado”.
“Na semana passada tivemos condições meteorológicas adversas, com ventos predominantes do quadrante Sul que acabaram por remover e transportar para “mar largo” grande parte da areia no referido sector da praia. Mas não podemos esquecer que foi deste mesmo sector que foi extraído e removido grande quantidade de materiais geológicos que foram utilizados na construção do porto de abrigo, promovendo um grande rebaixamento da praia. A entrada das casas da lancha actualmente apresentam um desnível de cerca de 3 a 3,5m relativamente ao nível de praia-mar. Outra constatação é que muitas das infraestruturas que estão ali construídas já teriam ruído se não fosse a construção das muralhas e a carga sólida, grandes blocos ali depositados. A título de exemplo, se compararmos fotografias aéreas de diferentes espaços temporais constatamos que ocorreu recuos com mais de 20 metros”, explicou João Baptista, dando conta que a tendência futura é construir uma muralha em toda a extensão do sector de praia para evitar que o mar continue a entrar e colocar em risco pessoas e bens.