Alterações climáticas reduzem para metade tartarugas recém-nascidas na Amazónia
O número de tartarugas charapa nascidas no Vale do Guaporé, na fronteira entre Brasil e Bolívia e principal área de nidificação desta espécie amazónica, diminuiu para metade num ano devido às alterações climáticas, disseram hoje fontes oficiais.
O número caiu de 1,4 milhões em 2023 para 700 mil em 2024.
"Registámos uma queda de 50% no número de nascimentos porque as alterações climáticas afetaram o ciclo de reprodução desta espécie", disse o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) no estado amazónico de Rondónia, à agência noticiosa espanhola Efe.
O especialista explicou que, além de uma seca histórica este ano, que reduziu o nível dos rios na Amazónia a níveis mínimos, a região sofreu incêndios florestais recordes e, em dezembro, com chuvas extremas que causaram inundações, afogando milhares de tartarugas recém-nascidas.
Só neste domingo, 200.000 tartarugas recém-nascidas foram salvas e colocadas temporariamente em cercas.
A charapa Podocnemis expansa, também conhecida como tartaruga-da-amazónia no Brasil, é a maior espécie de tartaruga de água doce da América do Sul e grande parte das suas fêmeas costuma vir nos meses de agosto, setembro e outubro para as praias do alto do rio Guaporé para desovar, fazendo dessa região a sua maior área de nidificação.
Os ninhos estão localizados numa área de 30 quilómetros em sete praias do Guaporé, cinco do lado brasileiro e duas do lado boliviano.
"Das cinco praias que sempre visitamos para procurar ninhos, este ano só registámos eclosões numa. Nas outras quatro não houve eclosão", disse o superintendente do Ibama.
Segundo o biólogo José Carratte, supervisor ambiental da Energisa, empresa de energia elétrica que apoia as campanhas de resgate da charapa em Guaporé, o fumo proveniente do céu desorientou as tartarugas, que acabaram a demorar mais do que o normal para chegar às praias para desovar, atrasando todo o ciclo de reprodução.
Outro agravante foi que a seca intensa deste ano transformou os leitos dos rios em extensos bancos de areia, afastando as crias das margens e deixando-as expostas a predadores, principalmente urubus e jacarés, segundo Guimarães.