O Bem-estar dos estudantes do Ensino Superior
Ao finalizarmos o ensino obrigatório, encerramos uma grande etapa do nosso percurso formativo cujo papel na consolidação do caráter dos jovens, que serão os principais agentes ativos da sociedade, é irrefutável. Do leque de caminhos que podem ser tomados, um número crescente de jovens opta pelo Ensino Superior. Esta transição representa, para estes recém maiores de idade, o primeiro passo em direção à independência. Contudo, o “mundo dos adultos” apresenta os seus próprios desafios, e o Ensino Superior não é exceção.
Ao tornar-se adulto, exige-se ao jovem que tenha competências fundamentais como a autonomia, gestão financeira, emocional e sobretudo um espírito crítico, todas elas essenciais à prossecução da formação superior. Efetivamente, quando ingressamos no Ensino Superior deparamos-nos com um modelo de ensino despersonalizado que exige uma autonomia incomparável à do ensino secundário, gerando em muitos estudantes um sentimento de desorientação altamente desmotivante. Facto é que muitos jovens não têm oportunidade de desenvolver essas competências no seio familiar, o que dificulta severamente a sua adaptação ao Ensino Superior.
Das muitas frentes de batalha do bem-estar dos estudantes do Ensino Superior, não posso deixar de mencionar o insucesso académico, a componente financeira e o impacto de uma má gestão da vida académica na saúde dos universitários.
Como estudante de medicina, é evidente que no nosso percurso académico somos acompanhados por um fantasma indesejado: o estigma de que as classificações que obtemos durante o curso condicionarão o resto da nossa vida profissional. Estes padrões irrealistas são os pilares de uma definição de sucesso académico que, a meu ver, contribui mais para a debilitação da saúde mental do que para a formação de profissionais eficientes. No passado mês de novembro, a ET-AL, o diário eletrónico da AAUMa, publicou sobre a pressão e exaustão extrema vivida pelos estudantes de medicina na época de preparação para a PNA, cuja nota definirá a sua colocação na especialidade ambicionada. O efeito desta avaliação na integridade física e psicológica destes jovens é assustador e exemplifica as consequências de uma criterização redutora das qualidades pretendidas num profissional competente.
É imperativo referir ainda o papel dos recursos financeiros no bem-estar dos estudantes. Sem os meios adequados, haverá uma maior dificuldade em aceder a habitações com locais de estudo apropriados, a uma alimentação mais cuidada, a ferramentas de trabalho mais modernas para organização do estudo e muitos outros.
Outro revés diz respeito à conciliação da vida pessoal, com o estudo e outras esferas da Academia. Muitos estudantes têm uma determinação admirável em integrarem-se na comunidade académica, seja pela presença em todos os convívios, pelo Associativismo ou pela adesão a outros coletivos. Todas as experiências que promovam a integração são uma mais valia. Porém, se não existir uma gestão equilibrada destas atividades, com o estudo e outros interesses pessoais, a sobreposição de compromissos acompanhada por uma sobrecarga de responsabilidades culminará numa espiral descendente marcada por stress, privação do sono e alimentação inadequada.
Apelo, assim, a todos os interessados na formação de profissionais competentes e saudáveis, para que sejam sensíveis às adversidades enfrentadas pelos estudantes, sublinhando a importância da implementação de medidas que concorram para o seu bem-estar.