O PS quer gozar connosco?

Não vale tudo na política. Há coisas com as quais não se pode nem se deve brincar.

Sou um defensor da liberdade de expressão, até pelo direito inalienável que o 25 de abril nos trouxe e o 25 de novembro consolidou de todos podermos dizer o que nos vai na alma, sem temermos ser presos, perseguidos por isso.

Mas, também entendo que essa liberdade de expressão termina quando resvala para a ofensa, para a calúnia e para o desrespeito pela dignidade dos outros.

Os novos cartazes do PS, mais do que provavelmente idealizados por uma agência de comunicação continental (eventualmente aquela que tinha conexões muito importantes com a presidência de Paulo Cafôfo na Câmara do Funchal), são uma piada de mau gosto.

O cartaz quer criticar Miguel Albuquerque, ligá-lo aos incêndios, mas perde-se no mau gosto de querer ridicularizar o adversário. Da mesma forma que, por exemplo, não perceberia um cartaz do PSD com foto de Paulo Cafôfo e da sua esposa a falar dos seus passeios pela promenade ou das suas idas a Bruxelas, quando na Madeira se estava a negociar um Orçamento…. Ou das suas idas “românticas” à Venezuela, quando era secretário de Estado das Comunidades.

Não, não vale tudo nem pode valer tudo. Eu, se fosse dirigente socialista, teria vergonha de tal cartaz!

Mas, não bastava a imagem (passível de queixa-crime?), como o cartaz ainda publica uma expressão que pretende, novamente, gozar com Miguel Albuquerque, mas que acaba por gozar com todos os madeirenses, do seu sotaque, do qual, estejam certo os continentais que pretendem nos achincalhar, temos o maior orgulho.

O “vamilhá” é algo que o nosso sotaque pode soar, quando dizemos “vamos lá”. Vou ignorar que a maioria dos madeirenses até diz o “vamos lá” de forma clara, não diz propriamente “vamilhá”.

Mas, se aos continentais soa “vamilhá” tudo bem. Sem complexos, com orgulho! O que não posso admitir é que se pretenda gozar do nosso sotaque, acentuá-lo como forma de rebaixar muito mais do que Miguel Albuquerque todos os madeirenses.

Nós temos orgulho nas nossas idiossincrasias, nas nossas especificidades, na nossa história, nas nossas tradições e costumes, na nossa luta pela Autonomia, no nosso direito a sermos Madeirenses e Porto-santenses. De sermos diferentes, de podermos falar diferente, de nos expressarmos com os nossos regionalismos e a termos, sem que nos gozem, o nosso sotaque.

Um partido regionalista, madeirense, que defende os madeirenses sabe isso. Infelizmente, o PS de Paulo Cafôfo ainda não entendeu isto. Prefere tentar cair na graça dos continentais do que na graça dos madeirenses. Prefere fazer tudo o que eles mandam do que defender os madeirenses e os seus interesses (como se percebeu durante os anos de governação socialista lá em Lisboa).

O PS de Paulo Cafôfo tem medo e tem vergonha. Medo e vergonha de colocar nos cartazes o seu líder, preferindo optar por Miguel Albuquerque (possivelmente por saber que a imagem do seu líder (?) Paulo Cafôfo está desgastada até mais não). Vergonha do seu passado e do seu presente. E vergonha de serem madeirenses, do falar madeirense, do ser madeirense.

Por isso, não se admirem de ficar não sei mais quantos anos na oposição (apesar das tentativas desesperadas de promover coligações votadas, logo à partida, ao fracasso). Quem não entende um povo, quem tem vergonha desse povo, como pode querer governá-lo?

Nem se pode admitir que tentem gozar com o nosso sotaque…. Temos de bater com qualquer coisa do género: como é que um partido que diz defender os madeirenses admite que se goze, nos seus cartazes, com um falar de todo um povo. Como é que admite que uma agência de comunicação continental goze do nosso povo

Ângelo Silva