DNOTICIAS.PT
Artigos

Armadilha

A recente reprovação do Orçamento da Região e a apresentação da Moção de Censura que hoje acontece ao governo representa um acto de enorme irresponsabilidade por parte dos partidos da oposição que demonstraram estar mais preocupados em sair beneficiados do que atender às necessidades da população madeirense. Sou um autarca de uma freguesia pequena em território, mas grande quando em discussão estão os mais elementares interesses do povo. Honra seja feita a todos os prevalecem sempre ao interesse partidário como foi a aprovação do nosso orçamento por unanimidade. Que pena os seus líderes não estivessem presentes.

Na verdade Câmara de Lobos está longe de ter um Produto Interno Bruto (PIB) como foi o caso da Região que ultrapassou os 6 mil milhões de euros em 2022 e 6,4 mil milhões em 2023, com previsão de chegar aos 7,6 mil milhões em 2025, mas, apesar da nossa pequenez, certamente sofreremos o impacto económico desta decisão que será imediato.

Não tenho dúvidas que a incerteza gerada por uma crise política desta magnitude afugentará investidores. Até para Câmara de Lobos. Além disso, a interrupção ou adiamento de políticas públicas previstas no orçamento recentemente reprovado prejudicará directamente famílias e empresas, especialmente as pequenas e médias, que representam mais de 80% do tecido empresarial e empregam a maior parte da população activa na Região.

Dados recentes também mostram que a taxa de desemprego na Madeira, actualmente em torno de 5,7%, uma das mais baixas do país, pode sofrer um aumento perante a instabilidade política, especialmente em sectores como a construção civil e o turismo, que dependem de uma visão clara e de longo prazo para investimentos. Estes sectores, que nos últimos anos criaram centenas de postos de trabalho, podem agora entrar em retracção. E de quem é a culpa? Da oposição!

A memória diz-nos que as moções de censura têm historicamente demonstrado o seu potencial destrutivo em diversos contextos, sobretudo quando usadas como ferramenta de pressão política em detrimento do interesse colectivo. Em Portugal, um exemplo marcante foi a moção de censura ao governo de Cavaco Silva, em 1987, e o período imediato após a moção foi marcado por incertezas e impactos negativos na economia. Quem dissolveu o parlamento? Mário Soares. Para castigo os sociais-democratas venceriam as eleições desse ano, com a primeira de duas maiorias absolutas de Cavaco.

Mas os prejuízos vão além do campo económico. A moção de censura também afecta profundamente a vida das famílias madeirenses, que agora enfrentam um cenário de incerteza e instabilidade. A expectativa de continuidade de projectos e políticas que poderiam melhorar as condições de vida é substituída pela dúvida quanto ao futuro. Também sei que é nos momentos de crise que a população espera liderança e decisões que inspirem confiança, mas o que foi entregue foi um espectáculo político que pouco ou nada contribui para resolver os problemas reais da Região.

De resto quando os representantes eleitos demonstram incapacidade de dialogar e chegar a consensos em prol do bem comum, a população perde a fé na política como ferramenta de solução de problemas. Temo que a frequência de crises políticas apenas reforce o desencanto e alimente narrativas populistas e ameacem os alicerces democráticos. Não deveria ser assim.

Havia alternativas para evitar este cenário desastroso. Um diálogo mais produtivo entre governo e oposição poderia ter identificado pontos de convergência que permitissem ajustes ao orçamento ou mesmo a implementação de medidas adicionais que atendessem a preocupações legítimas dos partidos da oposição.

Para a população, aquela que em parte represento, resta a angústia de ver os seus interesses sacrificados no altar das disputas partidárias, enquanto os líderes da oposição se limitam a oferecer críticas ocas.

A história ensina que momentos de crise podem ser transformados em oportunidades, desde que lideranças corajosas e responsáveis tomem a dianteira. A oposição madeirense tem agora a oportunidade de provar que não está apenas interessada em desestabilizar, mas que também é capaz de contribuir para o bem comum.

O momento é de resiliência e de comunicar, será crucial para recuperar a confiança perdida e garantir que a Madeira continue no caminho do progresso. A estabilidade política não é apenas uma questão de conveniência, mas sim um pilar essencial para a prosperidade económica e social de toda a região.

Sinto muito que no dia que vos escrevo estas humildes letras, de orgulho e reconhecimento pelo enorme trabalho realizado pelo poder autárquico e pela lição de democracia dada a toda a classe política, tenhamos na casa da democracia madeirense uma moção de censura que irá prejudicar todos nós.

O dia 17 de Dezembro ficará marcado como um dia de mau presságio para a Madeira e Porto Santo mas muito mais para aqueles que armadilharam este cenários a todos nós. Uma autêntica armadilha.