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Carta aberta a Paulo Cafôfo

Caro Presidente do PS Madeira,
Camarada Paulo Cafôfo,

Depois de mais de dez anos de intensa atividade política e partidária, escrevo hoje na qualidade de militante de base do PS, que há largos meses regressou à sua profissão. Pelo caminho, nunca tive vergonha: nem de ser político e ainda menos de ser socialista. Reconheço os custos que falar publicamente sobre o PS tem: junto dos militantes, que preferem a discussão interna, mas que me está vedada; e dos madeirenses em geral, que em cada divergência de opinião procuram sinais de fragilidade da oposição. Só o faço, também com custos pessoais, porque podem proscrever-se pessoas, mas não se podem proscrever ideias - e comigo é sempre sobre ideias: para o futuro da Madeira e para o futuro do PS.

Pelos motivos que todos conhecemos, a última semana foi uma das mais difíceis da história recente do PS - mas ainda que isso deixe marcas, para o que interessará realmente a partir de terça-feira? Se todos quisermos, para muito pouco. A aprovação da moção de censura abrirá a janela de clarificação política de que a Madeira precisa - e, com isso, também a oportunidade de começarmos tudo de novo.

Sejamos claros: em qualquer situação, o PS será sempre uma melhor alternativa do que o PSD - o de Albuquerque, o de Manuel António Correia, o de Pedro Coelho, ou o de qualquer outro que se seguir. É assim agora, como foi com Alberto João Jardim: uma alternativa melhor porque mais livre, mais democrática, mais igual, mais justa, mais solidária e, sim, também mais autonomista - não na dialética inconsequente, mas na concretização do nosso ideário político, como sempre fizemos, quando e onde governámos. Mas essa nossa convicção não basta. Não basta porque não tem sido esse o entendimento dos madeirenses: porque por vezes falhámos na estratégia, nos protagonistas e na mensagem que transmitimos.

Ainda assim, o PS nunca falhou no fundamental: na defesa inequívoca dos madeirenses. Não podemos falhar-lhes agora: a todos aqueles que anseiam, alguns até que desesperam, por uma alternativa concreta e em que acreditem genuinamente. Tem sido esse o apelo emotivo que tenho recebido de muitos: militantes, simpatizantes, madeirenses em geral. Por agora, a construção dessa alternativa está nas tuas mãos. Da minha parte, nunca acreditei em impossíveis - e por isso continuo a acreditar que é possível a oposição derrotar o PSD nas próximas eleições, assim saibas tomar as opções corretas. Não nos peças para partirmos de novo para eleições com resultado marcado à partida: para perdermos por pouco.

Caro Paulo,

Estou em crer que esta será a tua última chance de, com inquestionável legitimidade, fazeres as escolhas certas. De dares continuidade ao que fizeste em 2013 e 2017 no Funchal. De seguires o bom exemplo do que fizemos em 2019 na Madeira. De encerrares com chave de ouro o livro com as páginas que também ajudaste a escrever: o da mudança política na Madeira. Chegou a hora de fazeres as escolhas que os madeirenses pedem, certo de que o teu nome ficará na história da Madeira como um de dois homens: mais um candidato derrotado, ou o líder da oposição que, como o Emanuel, criou espaço para uma alternativa vencedora; o que abriu as portas à queda definitiva do regime, ou o que fechou a da esperança num futuro melhor.

Ambos sabemos quem são, neste momento, os melhores de entre todos os socialistas para protagonizarem essa mudança. Que, se os escolheres para a liderarem, outros se juntarão. Muitos outros se juntarão. Que, todos juntos, socialistas e madeirenses em geral, seremos suficientes.

Se é verdade que, como Soares nos ensinou, “só é vencido quem desiste de lutar”, é preciso que a luta seja a sério. Estou certo de que continuaremos, cada um à sua maneira e fiel às suas convicções, a lutar por aquilo em que acreditamos, seguro de que farás o que julgares, em consciência, ser o melhor para a Madeira. Em nome de todos aqueles que sucumbiram à espera do dia que tarda em chegar, como António Loja ou Arlindo Viveiros, mas que sabemos que chegará, é hora: de dares o passo certo. De começarmos de novo. Viva o PS!