Pior é impossível
O novo ano traz a forte possibilidade da existência de um projecto político na Região, alternativo ao PSD e PS
Apesar de estarmos em plena quadra natalícia o tempo parece de Carnaval, tal são os episódios burlescos (mas trágicos), a que fomos brindados na última semana. Pior era mesmo impossível. Depois de o Orçamento da Região para 2025 ter sido chumbado, com tudo o que isso acarreta de negativo, o DIÁRIO publicou uma sondagem que coloca quase tudo na mesma no caso de haver eleições antecipadas. Isto é, apesar de todas as polémicas e investigações judiciais o PSD mantém-se na liderança, a uma grande distância do eterno segundo classificado, o PS.
O partido que jura ter tudo preparado para ser poder não descola. Pior, perde força. Na ressaca da má notícia Paulo Cafôfo decide, numa jogada suicida, propor uma ‘geringonça’ contra-natura para derrubar, nas urnas, a força que lidera há quase meio século os destinos da Madeira. Por que o PS sozinho não chega lá. Foi trucidado fora e dentro de portas, como seria expectável e reduzido a uma insignificância preocupante para quem quer ser alternativa, o que não é de todo seguro, dada a proximidade do JPP, partido que percebeu de imediato a intenção de Cafôfo, dando-lhe uma nega com estrondo. Por muito mau que tenha sido o timing e a forma escolhida pelo líder socialista, quem no seu perfeito juízo aceitaria uma coligação pré-eleitoral, apresentada primeiro na comunicação social? Numa jogada de pura sobrevivência política, Cafôfo conseguiu a proeza de atrair para si as críticas da semana. Quando o alvo deveria ser, por maioria de razão, o seu principal adversário, Miguel Albuquerque, o chefe dos socialistas desaproveita mais um momento de ouro para ganhar pontos. Em menos de 24 horas tudo se esfumou e tudo foi reduzido ao ridículo político, onde um cartaz de mau gosto constituiu a ‘cereja no topo do bolo’. Em vez de transformar os problemas em oportunidades, Cafôfo opta quase sempre pelo contrário, secundado pelas caras de sempre, o que começa a revelar perda de poder de mobilização interno. A se confirmarem os resultados avançados pelo estudo de opinião da Aximage logo após as eleições, haverá uma luta fratricida pelo poder dentro do PS. Poderá é ser tarde demais, caso o JPP o ultrapasse e se transforme no maior partido da oposição. O que não é inédito.
A desastrosa gestão política desta crise previsível mostra outro dado revelador: ao manter-se na liderança do PSD, Miguel Albuquerque está a secar o partido e a comprometer as novas gerações. Está a fazer o que Jardim fez antes de ser derrubado por si nas internas de 2014. Albuquerque segura as preferências de um eleitorado cada vez mais dividido, mas não consegue alcançar a estabilidade que lhe permita quatro anos de governação serena. Ou dá sinais de renovação efectiva na lista de deputados ou condicionará fortemente o futuro do partido, que continua a beneficiar da oposição ‘fofinha’ feita pelo PS e da ainda eficaz máquina social-democrata. Não precisa de se esforçar em demasia. Basta continuar a dramatizar a reprovação do Orçamento e a aparecer diariamente em todo o lado.
E o futuro? Será o que os madeirenses quiserem, mas antevê-se a vitória do PSD sem maioria e a precisar de uma aliança consistente para poder governar. Com que parceiros? Neste momento não é difícil de prever, mas cabe sempre ao eleitorado fazer a escolhas que entender melhor para o futuro colectivo, com todos os riscos que isso possa acarretar.
Noutra frente, o novo ano traz a forte possibilidade da existência de um projecto político na Região, alternativo ao PSD e PS e em choque frontal com as respectivas lideranças, com militantes de ambos os partidos. As conversações entre diversas personalidades estão em curso.