Desenvolvimento de mísseis por países europeus enfrenta desafios
O investigador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), Timothy Wright, advertiu hoje que o desenvolvimento e produção de mísseis de longo alcance em conjunto por vários países europeus vai enfrentar desafios políticos, técnicos e orçamentais.
"É claro que nenhum destes desafios é intransponível", vincou o especialista, durante um seminário promovido pelo centro de estudos britânico que decorreu hoje em Londres sobre o programa de Abordagem Europeia de Ataque de Longo Alcance (ELSA), que foi acompanhado pela agência Lusa.
No entanto, Timothy Wright lembrou que "muitos projetos europeus ambiciosos fracassaram ou sofreram atrasos significativos devido a diferenças técnicas ou industriais irreconciliáveis entre os participantes".
"Dado o ambiente de segurança exigente da Europa e também o desejo dos Estados-membros europeus da NATO de preencherem as lacunas de capacidades [de defesa] de forma rápida e barata, os países europeus fariam bem em evitar estas armadilhas", frisou.
Em julho passado, Alemanha, França, Itália e Polónia acordaram durante a cimeira da Aliança Atlântica celebrada em Washington um plano de cooperação com vista ao desenvolvimento e produção de mísseis de alcance superior a 500 quilómetros, ao qual o Reino Unido e Suécia juntaram-se entretanto.
Embora o anúncio oficial não tenha detalhado o tipo de arma, o ministro da Defesa sueco, Pål Jonson, revelou em outubro passado que a intenção é "desenvolver um míssil de cruzeiro lançado do solo com um alcance entre 1.000 e 2.000 quilómetros".
"A guerra na Ucrânia demonstrou que as capacidades de ataque a grande distância são necessárias não só para dissuasão, mas também para evitar que um inimigo lance ataques fora do alcance para que os possamos impedir", referiu o ministro sueco na mesma ocasião.
Segundo o analista Timothy Wright, um míssil "supersónico ou de muito baixa deteção" pode ser "uma opção mais atrativa a longo prazo para as necessidades europeias, mas isso aumentaria os custos e tempo de desenvolvimento", pelo que esta opção poderá não ser viável.
Outra investigadora do IISS, Zuzanna Gwadera, argumentou, no mesmo seminário, que "uma das principais lições que estão a emergir da Ucrânia é que a velocidade é importante para a capacidade de sobrevivência".
"Os mísseis balísticos e outros sistemas de mísseis supersónicos têm tido um melhor desempenho em termos de taxas de interceção do que os sistemas subsónicos", referiu.
Em 21 de novembro, a Rússia lançou um ataque à Ucrânia com um novo míssil balístico hipersónico de alcance intermediário batizado como 'Oreshnik'. Na altura, o Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o uso deste novo míssil tinha sido uma resposta aos ataques ucranianos contra instalações militares russas nas regiões de Bryansk e Kursk com armas fornecidas pelo Ocidente.
Putin congratulou-se pela capacidade do 'Oreshnik', dizendo que as suas múltiplas ogivas, que mergulham no alvo a 10 vezes a velocidade do som, são imunes à intercetação por qualquer sistema de defesa aérea existente.
Na sua intervenção, Zuzanna Gwadera referiu que a Rússia está a fazer esforços redobrados para desenvolver mísseis de cruzeiro hipersónicos e supersónicos.
"A Rússia já utiliza e disse-nos que está a trabalhar em mais capacidades de ataque de precisão de longo alcance, o que constitui obviamente uma ameaça para os aliados europeus da NATO que procuram desenvolver capacidades análogas", salientou ainda a investigadora.