A vitória de Trump (e o impacto na Europa)
Começo este texto por dizer que não sou entusiasta de Donald Trump. Sinceramente, nem tão pouco me imaginaria a votar nele se fosse eleitor norte americano. O que não invalida que o mesmo se aplique a Kamala Harris. Para nós europeus moderados, faz-nos alguma confusão que à eleição da maior potencia mundial se tenham apresentado dois candidatos desta estirpe. Temos sempre a mania da intelectualidade e de que um político deve seguir certos protótipos que não se encaixam nem num nem no outro. A verdade é que a eleição não foi cá, nem fomos nós chamados a votos. Durante semanas a fio, todo o tipo de comentadores foram chamados a dar a sua opinião em plena televisão nacional como aliás já vem sendo hábito. Regra geral todos ou quase todos alertaram para os perigos do candidato Republicano e tentaram fazer passar uma mensagem que apelasse ao voto nos Democratas como se nós tivéssemos alguma coisa a ver com o assunto. Foram proclamadas diversas teorias fundamentadas em mil e uma razões que invariavelmente desaguavam na ideia de que com o recém vencedor a Europa sairá a perder. Cá estaremos para perceber se assim será ou não. Mas todos os sinais indicam uma mudança na política geoestratégica do país que tem sido há largos anos o grande suporte da ideologia ocidental.
A experiência passada diz-nos que nem tudo o que Trump diz é para ser levado a sério. E nem sempre faz o que diz, como qualquer político obviamente mas na boca dele com maior desfaçatez. Parece no entanto claro que deixaremos de contar com a muleta e o escudo protetor que nos suportou nas ultimas décadas. Isso leva-nos à partida para duas conclusões das quais devemos tirar ilações. A primeira é que há outras formas de ver o Mundo para além da nossa e temos que de uma vez por todas aceitar a possibilidade de estarmos errados em muitas matérias. Se Donald Trump venceu de forma democrática e esclarecedora é porque a sua mensagem conseguiu chegar de forma mais limpa aos eleitores. E disso parece não haver dúvidas. As questões económicas têm um impacto brutal na decisão de voto porque mexe com a qualidade de vida de cada um, mas o embate frontal contra uma imigração desregrada que nos vai tentando impor novos hábitos e culturas foi, no meu entender, um dos principais trunfos para a vitória.
Nós, por cá, parecemos não aprender com os sinais vindos de fora. Continuamos a acreditar no país de brandos costumes, que os imigrantes nos usam como mera passagem para o resto da Europa e que tudo continua seguro e igual. Não é verdade e esse tema será fator fundamental na discussão pública dos próximos anos e razão decisiva para muitos votarem no único partido que vem alertando para esse problema. E esse partido é evidentemente o Chega. Não quero com isto passar-lhes qualquer atestado de propriedade ou de valor, muito menos da forma troglodita e cavernícola com que muitas vezes expõem as suas posições. O que é facto é que ninguém parece querer abordar o tema deixando para o partido de André Ventura o palco principal de algo que está a mexer (e mexerá muito mais nos próximos tempos) com a nossa identidade, a nossa forma de ver a vida, os nossos valores e costumes.
A derrota de Kamala Harris é acima de tudo uma derrota do politicamente correto, da ditadura as minorias, do primado da ideologia de género e das novas modas divisionistas sobre o racismo, a diferença impactada numa inclusão que nos é imposta e de diversas teorias de cancelamento disfarçadas de boas intenções. As pessoa estão fartas que lhes digam que o Mundo deve ser regido ao ritmo de uma minoria que se acha intelectualmente superior, que nos quer impor como evolutivo, padrões e formas de estar que não são as nossas e nas quais nós não acreditamos. E de uma vez por todas, também por cá, é tempo de dizer a essa gente que nem tudo o que é mudança é para melhor e que há certos conceitos que preferimos manter inalterados. Isso não quer dizer que não respeitemos ideias diferentes, quer apenas afirmar de forma concludente, que há uma maioria silenciosa que não se revê nesse revisionismo histórico nem nessa educação assente em revoluções bizarras. A segunda razão é precisamente essa. A Europa está velha, decadente e ultrapassada. É o fim de uma ascendência e o caminho para uma nova realidade onde devemos contar cada vez menos com os outros e assumir as nossas próprias posições. Talvez nisso, a médio prazo a vitória de Trump nos traga alguma coisa de positivo.