Tacticismo em toda a linha
A Madeira precisa de um governo que lhe garanta estabilidade e com cadastro limpo
A crise política em que está mergulhada a Região convoca-nos a uma reflexão profunda sobre o que queremos para o futuro. A caminho dos 50 anos da autonomia política da Madeira é urgente cada um de nós fazer esse debate, olhando para a frente sem qualquer tipo de amarra ideológica e partindo sempre do princípio que é o povo quem define o caminho a seguir e que em democracia há sempre solução para os problemas que vão surgindo pelo caminho, por mais densos e complexos que possam ser.
Desde o arranque de 2024 que vivemos num quadro político atípico, num permanente sobressalto de suspeitas judiciais a se abaterem sobre governantes, autarcas e altos quadros da administração. De permeio, houve eleições antecipadas em Maio, que obrigaram a mais uma intrincada aritmética parlamentar. O Orçamento deste ano foi aprovado tardiamente, com todas as consequências negativas que isso acarreta.
Não é novidade para ninguém: o Governo Regional está condicionado na sua acção desde Janeiro e as instituições estão afectadas na sua credibilidade. O governo não governa livremente quando mais de metade dos seus membros são arguidos. Há levantamentos de imunidade na Assembleia por aprovar. O quadro não é normal, mesmo sabendo-se que ninguém é culpado até trânsito em julgado. E o que se faz quando tudo arde? O pior da política, protagonizado pelos seus actores principais: tacticismo em toda a linha. Em vez de clarificarem, adensam os problemas, falam nas entrelinhas, remetem-se ao silêncio e às meias-palavras, jogam em vários tabuleiros e perspectivam cenários para confundir. Pior. Tentam normalizar o que não é normalizável e não se apercebem que tal comportamento provoca urticária aos eleitores, cansados de jogos estéreis e de eleições. Serve, apenas, para entreter tolos e preencher agendas vazias de ideias inovadoras e de soluções sérias para a vida colectiva. E isso começa a ser o padrão dominante que não pode continuar.
A moção de censura apresentada pelo Chega foi imposta por André Ventura, que é o líder omnipresente e omnisciente de um partido que navega ao sabor da onda, que explora a dor dos mais frágeis, semeia a divisão e o ódio na sociedade. O mesmo que aplaude a eleição de tiranos por esse mundo fora. Miguel Castro nem consegue explicar cabalmente os motivos que estão na base da decisão de avançar, pois umas horas antes dava nota pública da sua satisfação em relação ao Orçamento para 2025. Porque não deixou o documento ser primeiro aprovado, em Dezembro, para apresentar, depois, uma moção de censura? Qual é a pressa? A Região já não correria, dessa forma, o risco de ser governada, no primeiro semestre de 2025, em duodécimos, com todas as incertezas que isso gera nos investidores, empresas e famílias. Ao passar o ónus da responsabilidade “ética e moral das más práticas instaladas na governação madeirense” para o PS, o Chega quis condicionar o sentido de voto do maior partido da oposição. Emendou a mão, mas esta forma de fazer política, lançando primeiro o caos para depois ensaiar uma postura de responsabilidade é de uma falta de respeito tremenda para com a população.
É urgente clarificar-se a situação política regional. Os dirigentes partidários têm de ser responsáveis e assumirem as consequências dos seus actos, colocando os interesses do colectivo à frente dos seus. Parece de facto um cenário mirífico, mas é nas crises que se vêem os estadistas. A Madeira precisa de um governo que lhe garanta estabilidade, previsibilidade e com cadastro limpo. Chega de tacticismo político.